Título: Mercado vê inflação acima da meta em 2011 e eleva projeção para 2010
Autor: Duarte, Patrícia; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 02/03/2010, Economia, p. 21

Mantega descarta pressão de demanda e "ameaça iminente" de alta de juros

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O mercado enxerga, cada vez mais, que a inflação vai crescer no Brasil em 2010 e, pela primeira vez depois de 86 semanas seguidas, a projeção para 2011 também foi ampliada. De acordo com a pesquisa Focus do Banco Central (BC) divulgada ontem, os economistas agora estimam que o IPCA fechará este ano a 4,91% ¿ acima dos 4,86% calculados até então ¿ e a 4,53% no próximo.

Nos levantamentos anteriores, a conta era de 4,50% para 2011.

Em ambos os casos, as estimativas estão acima do centro da meta do governo para os períodos, de 4,50%, ampliando as chances de o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentar a Taxa Selic, hoje em 8,75% ao ano.

Ainda assim, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou em São Paulo que não vê ¿ameaça iminente de elevação de juros¿ e que o mercado financeiro ¿está excitando¿ as taxas nas operações de longo prazo. Ele descartou inflação por demanda este ano, mas reconheceu que ela poderá ficar ¿um pouquinho¿ acima do centro da meta.

Apesar de ter mantido as expectativas de que a taxa básica de juros fechará este ano a 11,25%, o mercado passou agora a esperar que ela permaneça neste patamar também em 2011.

Ou seja, não espera mais reduções a médio prazo, como registrado nas pesquisas Focus de até então. As apostas continuam de alta da Selic em abril, mas há especialistas acreditando que isso ocorrerá já neste mês.

¿ O mercado está reagindo à inflação corrente, que veio acima do esperado. Vários fatores contribuíram, como preços de alimentos, transporte e educação ¿ resumiu o economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto.

Sobre o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), o mercado manteve as previsões para 2010 e 2011, em 5,50% e 4,50%, respectivamente.

Para a produção industrial, elevou as estimativas de 8,41% para 8,60% em 2010 e as reduziu ligeiramente de 5% para 4,95% em 2011.

Para ministro, Meirelles foi mal interpretado Em São Paulo, onde almoçou com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Mantega disse que não viu nas declarações recentes do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, ¿ameaça iminente de elevação de juros¿.

Na última sexta-feira, Meirelles disse que nem mesmo as eleições impedirão que o BC tome medidas que, ¿no curto prazo¿, possam ser impopulares.

¿ Quem é responsável pelos juros é o BC. Quem decide se vai ter ou não aumento é o BC.

Confio na percepção do BC, que só vai elevar os juros se tiver risco de a meta de inflação ser ultrapassada. Faço aqui uma avaliação que a oferta será compatível com a demanda.

Mantega acrescentou que Meirelles foi ¿mal interpretado¿ pelo mercado: ¿ O mercado é que está excitando a economia, e o juro futuro está subindo. Isso é o que me preocupa, (porque) não vejo razão. O BC tem dado a sinalização correta e às vezes vejo uma má interpretação (...) ¿ Não vejo naquilo que foi dito (por Meirelles) uma ameaça iminente de alta dos juros.

Para Mantega, a alta do IPCA em janeiro (de 0,75%) foi isolada.

Ele estima recuo a partir de março para 0,25% a 0,30%. Quanto à inflação no ano, disse que ¿vai ficar mais próxima do centro (da meta), um pouquinho mais um pouquinho menos.¿