Título: Novo rumo na Tríplice Fronteira
Autor: Amaral, Arthur Bernardes do
Fonte: O Globo, 02/03/2010, Opinião, p. 7

O Brasil tem nove fronteiras tríplices, mas, ao longo das duas últimas décadas, o ponto onde convergem os limites de Brasil, Argentina e Paraguai tem sido o que mais instigou polêmicas.

Embora os problemas da criminalidade já estivessem no radar das autoridades dos três países sulamericanos desde a década de 1980, a região ganhou maior destaque em 1992, quando um atentado atingiu a Embaixada de Israel em Buenos Aires, e em 1994, quando ataque similar destruiu a Amia, uma associação judaica também localizada na capital argentina.

Entre as inúmeras hipóteses levantadas sobre os ataques, especulou-se que militantes de organizações políticas do Oriente Médio teriam entrado na Argentina pela Tríplice Fronteira, aproveitando-se da presença de significativa população de origem árabe nessa área.

O local passou então a ser estigmatizado e apontado por diversos atores políticos como um potencial ¿abrigo¿ para terroristas, sobretudo após os atentados de 11 de setembro ¿ fenômeno que analiso em livro (¿A Tríplice Fronteira e a guerra ao terror¿).

A região tem diversos problemas associados ao crime organizado, mas, quando o assunto é a suposta presença terrorista no local, em quase duas décadas de investigações, não se avançou muito além das especulações.

A Comissão 3+1 para a segurança na Tríplice Fronteira ¿ que reúne representantes dos governos de Brasil, Argentina, Paraguai e Estados Unidos ¿ reconhece, nesse sentido, que é necessário manter a vigilância sobre a área.

Mas tem sido consenso nas reuniões do mecanismo que não há provas concretas que nos permitam afirmar que organizações consideradas terroristas pelos Estados Unidos atuem ali.

Em breve, receberemos a visita de Hillary Clinton e estaremos diante de uma oportunidade ímpar para alterar o modo como o assunto vem sendo tratado. Sinais positivos de Washington, indicando uma mudança de abordagem, podem mitigar o relativo desgaste que surgiu nos últimos anos.

Cabe agora adotar uma estratégia de atuação multifacetada na Tríplice Fronteira, obviamente mantendo o foco na segurança, mas investindo principalmente na infraestrutura e no desenvolvimento econômico local.

Por exemplo: reavivando o turismo de compra e ecológico na área, tão prejudicado pela imagem negativa que foi lançada sobre esse espaço, robusteceremos a economia formal das três cidades e, dessa forma, contribuiremos para a diminuição da criminalidade na região.

Atacando as raízes dos problemas de segurança que lá persistem, nos preveniremos contra o potencial surgimento de outras ameaças.

É chegada a hora de superar a lógica do medo e traçar novos rumos para a Tríplice Fronteira.

A construção de um amanhã ainda mais seguro depende das escolhas políticas feitas por nós e por nossos parceiros. Brasil e Estados Unidos já aprenderam que, na política, o medo não é o melhor caminho.

Optemos novamente pela esperança e por um futuro sem fantasmas artificialmente criados.