Título: Arruda ainda procura saídas
Autor: Franco, Bernardo Mello; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 04/03/2010, O País, p. 9

Na véspera de julgamentos, governador afastado promete se licenciar do cargo

Bernardo Mello Franco e Fábio Fabrini

BRASÍLIA. Preso há três semanas, o governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), deu ontem mais uma cartada para tentar sair da cadeia e evitar a abertura do processo de impeachment. Ele enviou cartas ao Supremo Tribunal Federal e à Câmara Legislativa prometendo manter-se fora do cargo até o fim das investigações sobre o mensalão do DEM. Hoje, o STF julga o pedido de habeas corpus para libertá-lo, e os deputados distritais devem confirmar, em votação aberta, o início do processo de cassação.

No documento enviado à Câmara, Arruda afirmou que ficará licenciado até a conclusão do inquérito da Operação Caixa de Pandora no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Disse ser vítima de uma "campanha insidiosa", que teria culminado com sua prisão preventiva, e apresentou recurso para adiar a votação do pedido de impeachment.

Os advogados de Arruda alegaram que a Câmara deveria esperar que o STF julgue recurso apresentado pelo governador interino Wilson Lima (PR) contra o afastamento de sete deputados citados no inquérito. O novo presidente da Câmara, Cabo Patrício (PT), rejeitou o apelo e confirmou a votação para hoje.

- A sessão está mantida - disse o petista.

Um dia após visitar Arruda na Superintendência da Polícia Federal, o deputado Raimundo Ribeiro (PSDB) renunciou ao cargo de relator da CPI que investigará o escândalo na Câmara Legislativa. Ele negou ter atendido a pedido do governador afastado, de quem é amigo, e tentou atribuir a saída ao fato de a comissão estar sem presidente há mais de um mês. Segundo Ribeiro, Arruda estaria abatido e teria sofrido três crises de tontura durante a conversa. Ele disse ter visto livros religiosos na cela da PF.

- Encontrei um amigo bastante magro, abatido e preocupado - relatou.

Marco Aurélio: "Neste campo, não há negociação"

A defesa de Arruda entregou aos ministros do STF um memorial que reforça a promessa do governador de se licenciar caso seja libertado.

- É um argumento no sentido do psiquismo do governador. Ele não tem condições, após tanto sofrimento, de voltar a governar, salvo se exauridas todas as investigações. Isso não significa abdicar, abandonar. Não é o perfil do governador - disse o advogado Nélio Machado.

O relator do pedido de habeas corpus no STF, Marco Aurélio Mello, disse que o apelo não influenciará a decisão:

- Neste campo, não há negociação. O que há é justamente a análise dos fatos.

A Câmara Legislativa não sabe o que fazer com a vaga do deputado distrital Júnior Brunelli (PSC), protagonista da "oração da propina", que renunciou anteontem. Seu suplente imediato, Geraldo Naves (DEM), está preso preventivamente sob acusação de tentar atrapalhar as investigações contra Arruda. A Procuradoria da Casa estuda se ele pode ser empossado na cadeia.