Título: Brasileiros se queixam da falta de assistência em embaixada no Chile
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 04/03/2010, O Mundo, p. 33
Rotina aérea entre os dois países começa a se normalizar e voos são retomados
RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA. Em meio aos trabalhos de recuperação do Chile, a rotina aérea do país afetado pelo terremoto começou a ser retomada. Com o funcionamento parcial do aeroporto Arturo Merino Benitez (SCL), pelo menos cinco voos deixaram São Paulo ontem em direção a Santiago e outros cinco da capital chilena a São Paulo e ao Rio. Nos terminais dos aeroportos de Guarulhos e Tom Jobim, várias famílias aguardavam a chegada de parentes.
Na chegada a São Paulo, muitos passageiros reclamaram da falta de assistência por parte do governo brasileiro em Santiago.
- Fiquei esperando por eles, mas o atendimento foi péssimo. Os funcionários lá estão perdidos. Tive sorte com a companhia aérea - contou o administrador Roberto Lima, ao desembarcar.
Alguns passageiros reclamaram do socorro prestado pela FAB, alegando que a prioridade a idosos, mulheres e crianças não foi respeitada.
- Só os mais importantes vieram, os menos importantes ficaram por lá - disse Antônio Albuquerque.
O primeiro voo ligando Santiago ao Brasil saiu às 21h de terça-feira do Chile, aterrissando à 1h40m de ontem no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, com 156 passageiros. O segundo decolou às 9h20m e chegou a São Paulo às 13h. Ambos eram da TAM, que também realizou um terceiro voo, levando 223 passageiros de Guarulhos a Santiago por volta das 5h da manhã e tinha previsão de nova partida de Guarulhos às 22h com 174 passageiros.
Já a chilena LAN realizou seis voos para Santiago, São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo a empresa, os voos vindos do Chile estão com apenas 47% de sua ocupação, ao contrário dos que partem do Brasil, com 100%. A Gol também trouxe brasileiros para as duas cidades. O voo chegou em Guarulhos às 13h42m e no Tom Jobim, às 15h20m.
Entre os passageiros do primeiro voo a chegar a São Paulo estava um casal em lua-de- mel, forçado a acampar no saguão de um hotel de Santiago. Flávia Diniz e Tiago Luchesi estavam no quarto do hotel, quando o prédio tremeu.
- Tomamos a decisão errada de descer pelo elevador e não subimos mais. Foi uma sensação horrível. Tivemos muito medo - contou Flávia.
Adolescentes desacompanhados retornam
Para boa parte dos que desembarcavam do avião, foi difícil conter a emoção. Foi o caso de Sara Machado, que chorou muito quando viu o pai.
- Temia a tsunami e cheguei a pensar que poderia morrer - resumiu.
Logo pela manhã, um voo da LAN chegou ao Rio trazendo os irmãos Ísis e Rômulo Monteiro dos Santos, de 16 e 17 anos. Eles voltavam da Austrália e fariam uma escala em Santiago. Retidos na capital chilena, os menores de idade não receberam assistência especial da empresa aérea. Os pais, Mario Antonio de Souza Santos e Claudia Leite Monteiro, se emocionaram ao reencontrar os adolescentes.
- Foi muito bom. Agora estamos aliviados. Meus filhos não tiveram ninguém para recorrer em Santiago. Ficaram abandonados, sem nenhuma informação - disse o pai.
A ânsia de voltar ao Chile para saber notícias dos parentes faz com que muitos turistas chilenos acampassem no saguão dos aeroportos. A pedido do cônsul-geral do Chile, Aldo Famolaro, o Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural de São Paulo enviou 500 kits de alimentação, dois mil copos de água potável e 500 cobertores para os acampados em Guarulhos.
O governo brasileiro enviou para o Chile ontem dois aviões C-130 da FAB com equipamentos do hospital de campanha e 66 militares. As aeronaves, segundo o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que coordena o gabinete de crise, vão retornar com brasileiros.
Cada um dos dois aviões saiu do Rio com cerca de nove toneladas de carga. A previsão é que a ajuda seja concluída em seis viagens. Dois helicópteros da FAB, modelo H-60, também estão se deslocando para o envio de ajuda.
* Com G1
COLABOROU Christine Lages