Título: Cubano em greve de fome critica hospital
Autor: Goes, Ângela
Fonte: O Globo, 04/03/2010, O Mundo, p. 35
Médicos retiram Fariñas da UTI por se recusar a comer. Chanceler não responde se ONU poderá visitar prisões
Ângela Goes
HAVANA. O dissidente cubano Guillermo Fariñas, que há nove dias está em greve de fome e sede, passou mal ontem e foi levado inconsciente para a Unidade de Terapia Intensiva de um hospital em Santa Clara, perto de sua casa. O dissidente, no entanto, contou ter sido retirado por médicos da UTI e liberado por se recusar a comer. Fariñas protesta contra a morte do preso político Orlando Zapata Tamayo, também por greve de fome, e pede a libertação de 26 dissidentes com problemas de saúde na cadeia.
- Chegou um médico e disse que a UTI não é lugar para greve de fome. Me mandaram para casa para que não haja um falecimento numa instituição do Estado, mesmo reconhecendo que eu estava com disfunção metabólica - contou Fariñas, por telefone, ao GLOBO.
Após receber soro e glicose por via intravenosa, Fariñas disse se sentir mais fortalecido e que continuaria com a greve. Ele desmaiou em casa na manhã de ontem quando era atendido por um médico. Ele se queixava de dores na cabeça e no peito, mas a família esperou até que perdesse a consciência para levá-lo ao hospital.
Fariñas é um psicólogo de 48 anos que enfrenta a sua 23ª greve de fome para protestar contra o governo castrista. A nova greve foi deflagrada pela morte de Zapata, um operário preso na onda repressiva de março de 2003 e que estava em greve de fome havia quase três meses pedindo melhores condições nas prisões.
Numa entrevista publicada na terça-feira pelo jornal espanhol "El País", Fariñas disse que estava disposto a seguir com o protesto "até o final" se os presos doentes não forem soltos.
"Desejo morrer e me converter num mártir da luta pela liberdade em Cuba", declarou. "Até os psicólogos do Ministério do Interior dizem que é o meu perfil: eu tenho alta vocação para mártir. Se eu morrer, que o mundo perceba que o caso de Orlando não foi isolado."
Em Genebra, o ministro do Exterior cubano, Bruno Rodríguez, recusou-se a dizer se um investigador da ONU sobre tortura poderá visitar as prisões do país. Ele contou que Cuba convidou o representante da ONU, mas que deseja negociar as condições para a visita. Os investigadores da ONU rejeitam restrições sobre com quem podem conversar nas cadeias.
Ministro do Exterior não cita o nome de Zapata
Sem se referir ao dissidente pelo nome, Rodríguez disse que Zapata era um prisioneiro comum - embora a Anistia Internacional o considerasse um preso de consciência - e que recebeu tratamento médico apropriado. O governo cubano normalmente se refere aos opositores como mercenários a serviço dos Estados Unidos.
Com agências internacionais