Título: Dólar tem nova queda e Mantega afirma que situação não é a ideal
Autor: Schreiber, Mariana; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 06/03/2010, Economia, p. 32

Segundo ministro, governo avaliou restringir operações no mercado futuro

Mariana Schreiber, Aguinaldo Novo e Marília Martins

RIO, SÃO PAULO e NOVA YORK. O dólar comercial teve ontem mais um dia de queda e fechou cotado a R$ 1,787, com recuo de 0,28%.

Durante o dia, chegou a ser negociado a R$ 1,778. No mês, acumula desvalorização de 1,11% e, em fevereiro, despencou 4,14%.

Como em janeiro, subiu 8,27%, no ano ainda sobe 2,52%. O forte recuo desde fevereiro voltou a acender a luz amarela no governo.

Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, as medidas já adotadas pelo governo conseguiram evitar uma valorização excessiva do dólar, mas a situação ainda ¿não é a ideal¿. O ministro acrescentou que no fim do ano passado o governo avaliou impor limites a operações no mercado futuro de câmbio.

¿ Temos hoje uma situação relativamente estabilizada, mas não é a ideal. Não está equacionada ainda a questão da competitividade (das exportações brasileiras). Mas não queremos fazer a coisa de qualquer jeito. Não vale tomar qualquer medida que possa perturbar os mercados ¿ disse o ministro, em seminário promovido pela FGV em São Paulo.

Uma das medidas do governo para segurar a desvalorização do real frente ao dólar foi a elevação a 2% da alíquota do IOF sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e em ações no país, no fim de outubro.

¿ Ainda teríamos outras medidas para conter a valorização do câmbio (no fim de 2009), caso fosse necessário, não só no mercado spot mas no mercado futuro ¿ disse ele. ¿ Uma parte da valorização não se dá no mercado spot, se dá no mercado futuro. Você tem de olhar para o mercado que está detectando maior entrada de recursos.

Você pode ter posições vendidas dos bancos... Mas aqui você também pode tomar medidas, como a imposição de limites à exposição cambial ou exigência de parte de capital maior dependendo do risco assumido pelas instituições financeiras.

Então, você pode tomar medidas, se necessário.

Investidores apostam na alta ou na queda do dólar em contratos com vários vencimentos, negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Como a cotação à vista é a referência do segmento, os investidores mais fortes ¿ no caso, bancos e estrangeiros ¿ pressionam a cotação para cima ou para baixo para elevar seus ganhos com esses investimentos.

Taxa de desemprego nos EUA leva otimismo às bolsas Quando há forte entrada ou saída de recursos estrangeiros no país, a cotação à vista cai ou sobe, pressionada pela oferta ou pela demanda. Mas em fevereiro, por exemplo, quando o dólar caiu 4,14%, as saídas superaram os ingressos em US$ 399 milhões, o primeiro déficit desde março de 2009.

Segundo Mantega, regimes cambiais como o da China reforçam os desequilíbrios.

¿ A China só pensa em si própria e não quer saber dos outros países ¿ disse ele.

Em Nova York, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que a instituição está estudando um projeto de modernização das normas cambiais brasileiras.

¿ Interrompemos temporariamente durante a crise e retomamos em janeiro passado.

Pensamos agora em adotar medidas de modernização para tornar o mercado mais eficiente, não apenas no que se refere às exportações, mas também quanto à livre circulação dos capitais ¿ afirmou, em encontro com investidores promovido pela Câmara do Comércio Brasil-EUA.

E o anúncio de que a economia dos EUA fechou 36 mil postos de trabalho em fevereiro, menos que o esperado, fez as bolsas mundiais avançarem ontem. A taxa de desemprego americana ficou estável em 9,7%. De acordo com o economista da Legan Asset Management Fausto Gouveia, outro fato que trouxe otimismo foi o discurso do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, que falou no Congresso que o governo trabalhará para que o PIB cresça 8% em 2010.

O Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou em alta de 1,52%, a 68.847 pontos, maior patamar desde 19 de janeiro.Em Nova York, o Dow Jones subiu 1,17% e o Nasdaq, 1,48%.