Título: Na saúde, números doentes
Autor: Bruno, Cássio; Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 09/03/2010, O País, p. 3

Governo admite, porém, que só ajudará no custeio de hospital Cristiane Jungblut e Demétrio Weber

BRASÍLIA. A Casa Civil e o Ministério da Saúde divulgaram nota ontem confirmando que o governo federal não bancou a construção nem a compra de equipamentos para o Hospital da Mulher Heloneida Studart.

A nota frisa, porém, que a União gastará R$ 50 milhões ao ano para manter a unidade funcionando.

O hospital foi inaugurado anteontem, em São João de Meriti, pela chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. A obra de R$ 40 milhões foi realizada pelo governo estadual, que destinará também R$ 30 milhões ao ano para o custeio.

No Rio, o presidente Lula disse que a ênfase do noticiário ao fato de Dilma inaugurar uma obra que não recebeu investimento federal era uma ¿distorção da informação¿. Mas quem buscou dados ontem sobre os repasses do Ministério da Saúde, no sistema de consulta que o próprio ministério mantém na internet, deparouse com informações erradas.

A assessoria de imprensa do Ministério da Saúde admitiu que não estava claro se os valores disponíveis na internet diziam respeito a convênios apenas com o governo estadual do Rio, ou também com todas as prefeituras e hospitais federais no estado.

E prometeu corrigir a falha hoje.

A chamada ¿sala de situação¿, na página do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br), informa que o Estado do Rio teria ficado com 81% dos investimentos por convênios em todo o país em 2009 ¿ nada menos do que R$ 1,1 bilhão do R$ 1,3 bilhão aprovado pelo ministério no ano passado.

Considerando-se apenas os valores efetivamente desembolsados, os convênios com o Rio teriam recebido 82% do total ¿ R$ 323 milhões dos R$ 392 milhões pagos. A assessoria divulgou que os dados estavam errados.

Para o governo, as notícias veiculadas ontem sobre a visita de Dilma revelam ¿total desconhecimento sobre a realidade atual do SUS¿. A nota diz que esse tipo de parceria permitiu que a comunidade da Rocinha recebesse ontem um complexo de atendimento à saúde, onde funcionará uma Unidade de Pronto Atendimento 24 Horas (UPA), uma Clínica da Família e um Centro de Atenção Psicossocial (CAPs). Nesse caso, o governo federal repassará R$ 3,6 milhões ao ano para o custeio.

¿É importante ressaltar que a destinação de recursos a obras de hospitais e de outras unidades de saúde que funcionam gratuitamente pelo SUS geralmente envolve as três esferas de governo ¿ federal, estadual e municipal¿, diz a nota.

O governo ainda faz questão de dizer que tem aumentado os recursos em Saúde para o Rio ¿ estado de origem do ministro José Gomes Temporão.

Segundo a nota, numa comparação entre 2007 e 2009, o Ministério da Saúde ampliou em R$ 640 milhões a verba repassada ao Rio ¿para procedimentos de média e alta complexidade, como exames e consultas especializadas, cirurgias e internações¿.

Na ¿sala de situação¿ do ministério, porém, esse aumento foi menor: R$ 560 milhões.

A nota encerra afirmando que ¿essa conjugação de esforços pactuada é o que está possibilitando a melhoria do atendimento à saúde da população e o desafogamento dos prontossocorros do Rio de Janeiro¿.