Título: Queda de braço nas comissões
Autor: Rothenburg, Denise; Foreque, Flávia
Fonte: Correio Braziliense, 09/06/2009, Política, p. 6

Enquanto a oposição briga para manter a relatoria da CPI das ONGs com Arthur Virgílio, governistas pressionam para que investigação sobre a estatal nem comece

Governo e oposição entram hoje no jogo do quem pisca primeiro. A oposição está decidida a usar todas as armas para manter a relatoria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as organizações não-governamentais (ONGs) nas mãos do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). E, enquanto os oposicionistas agirem assim, os governistas asseguram que a CPI da Petrobras não sairá do papel. O primeiro movimento dessa queda de braço será da oposição: o líder da Minoria no Congresso, deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), estreou no cargo anunciando aos quatro ventos que PSDB, DEM e PPS vão obstruir a votação dos créditos orçamentários na sessão marcada para o meio-dia desta terça-feira.

A capacidade de obstrução da oposição, no entanto, é pequena, uma vez que a base governista tem maioria na Câmara e, no Senado, o governo também tem conseguido votar seus projetos, ainda que a conta-gotas. Hoje, o desafio será votar os créditos orçamentários, entre eles o que reserva R$ 6 bilhões do Orçamento para o programa Minha Casa, Minha Vida, um dos carros-chefes que o Planalto pretende colocar como um cartão de visita da campanha presidencial de 2010.

O governo depende da votação para dispor desses recursos. O valor foi aprovado na Comissão Mista de Orçamento depois de uma longa negociação entre o Executivo e o PMDB que acabou por carimbar R$ 300 milhões do total para que municípios com menos de 50 mil habitantes recebam ações do programa habitacional.

Os créditos editados também foram utilizados pelo governo para azeitar a relações com partidos da base aliada. No comando da Secretaria Especial de Pesca e do Ministério de Ciência e Tecnologia, o PSB queixava-se dos cortes promovidos no orçamento das pastas em janeiro, afetadas pela tesourada de R$ 28 bilhões para fazer frente à crise econômica. Depois de reclamar, o partido conseguiu R$ 191 milhões para o ministério e R$ 492 milhões para a secretaria.

Se a oposição tiver sucesso na obstrução e mantiver a relatoria da CPI das ONGs, o governo vai aproveitar a semana política para tentar ajustar os ponteiros no Senado, onde ainda não há a menor perspectiva de acordo para o comando da CPI da Petrobras, com instalação prevista para quarta-feira. A ordem no Poder Executivo é ganhar tempo e atrasar ao máximo o início dos trabalhos da comissão.