Título: Lula volta a inflar números sobre investimentos
Autor: Doca, Geralda; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 09/03/2010, O País, p. 8

Dados oficiais mostram que governo Geisel investiu mais que o atual, diferentemente do que afirmou o petista

BRASÍLIA. O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que seu governo foi o que mais investiu no país não bate com os dados oficiais. As atuais taxas de investimentos diretos da União estão longe das registradas na década de 70. Em 2009, a taxa de investimentos da União chegou a 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB), sem considerar estatais. Em 1976, no governo Geisel, os investimentos da União eram 1,9% do PIB, também excluindo as estatais.

Os dados são do especialista em finanças públicas Raul Velloso, com base em estatísticas do IBGE dos últimos 40 anos. Entre 2003 e 2009, a taxa de investimento da União oscilou entre 0,2% ¿ uma das mais baixas desde 1970 ¿ e 0,6%, estimativa para o ano passado. Nos últimos 40 anos, a taxa de 0,2% foi registrada três vezes: em 2003 e 2004, no governo Lula; e 2000, no governo Fernando Henrique

Para economista, governos FH e Lula se assemelham Na última sexta-feira, ao inaugurar uma obra em Juazeiro (BA), ao lado da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, Lula disse duvidar de que em algum momento no Brasil tenha havido tanto investimento quanto hoje. Defendeu a comparação dos governos e destacou os investimentos do PT em infraestrutura.

¿ Nestes 40 anos, a maior taxa foi registrada no governo Geisel.

Mas, antes disso, a maior onda de investimentos no Brasil se deu na década de 60 e no governo de Castelo Branco, quando se construiu a maioria das estradas do país ¿ afirmou Velloso.

Para o economista, o governo de Lula e o de Fernando Henrique Cardoso se assemelham. Os dados relativos às contas nacionais do IBGE mostram que a média de investimentos ficou em 2% nos dois mandatos de Fernando Henrique. Na era Lula, até 2008, ficou em 1,9%, devendo ficar no patamar do governo anterior quando os números de 2009 forem consolidados.

Velloso diz que quem mais tem feito investimento direto no país não é a União, mas estados e municípios. Pelos dados do IBGE, em 2009, os investimentos de estados e municípios somam 1,9% do PIB ¿ mas a metodologia de Velloso considera a execução do gasto e não a fonte de financiamento. Assim, parte desses investimentos podem ter sido realizados com recursos repassados pela União. Por essa metodologia, não estão indicadas as fontes de financiamento.

Velloso lembrou que os gastos com pessoal no governo Fernando Henrique subiram 4,8% acima da inflação entre 1995 e 2002. Já na era Lula, as despesas tiveram aumento real de 53,5%.

¿ Lula não pode se vangloriar de que investiu muito porque optou por aumentar gastos com pessoal ¿ disse Velloso.

O economista José Roberto Afonso concorda que o investimento público subiu nos últimos anos, sobretudo em 2009, com uma maior execução das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Afirma, porém, que a alta foi insuficiente para compensar a perda no setor privado e também em relação a décadas anteriores.

¿ O investimento da economia já foi bem maior, por muitos anos, especialmente antes dos anos 90. E o peso do governo federal é historicamente decrescente.

Mesmo tendo melhorado nos últimos dois anos, está muito longe do que já foi, especialmente na época do milagre econômico ¿ disse José Roberto.

Sobre o dinheiro do orçamento efetivamente gasto com investimentos em 2009, segundo o Siafi, o governo tem executado um índice baixo: foram pagos R$ 13,96 bilhões, ou 24,5% de um total de 57 bilhões. Já o montante empenhado (comprometido para gastos) é de R$ 45,8 bilhões, ou 80,3% do total previso.

Isso daria 1,9% do PIB.