Título: Fusões e aquisições entre empresas no Brasil voltam a patamar recorde
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 09/03/2010, Economia, p. 22

Desde dezembro, foram em média 53 ao mês, superando nível de 2008

BRASÍLIA. O ritmo de fusões e aquisições de empresas no Brasil voltou a acelerar desde dezembro passado, assumindo uma proporção inédita no país e evidenciando os bons ventos da economia. Entre dezembro e fevereiro, foram protocolados na Secretaria de Assuntos Econômicos (Seae) do Ministério da Fazenda 161 pedidos de avaliação desse tipo de negócio, a um média de 53,6 ao mês. Esse desempenho ultrapassa a média de 2008 ¿ que alcançou 51,2 ao mês ¿, ano que registrou o recorde de fusões e aquisições.

Foram 70 processos em dezembro e 61 em janeiro, por exemplo, todos de grande porte, com faturamento acima de R$ 400 milhões ou detendo mais de 20% do mercado local. Os números mostram uma reversão da tendência de 2009, quando a Seae registrou uma queda de 23,4% no número de pedidos protocolados em relação a 2008

Negócios mostram otimismo com a economia Em 2009, foram 471 pedidos, contra 615 no ano anterior.

Segundo o secretario de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Antonio Henrique da Silveira, essa queda reflete a crise econômica internacional, que levou a uma escassez de crédito no mercado financeiro: ¿ Faltaram recursos para financiar esses negócios, que exigem financiamento pesado.

O mercado secou. Nenhuma dessas fusões e aquisições é feita com recursos próprios.

Ele ressalta que 2009 teve dois momentos. No primeiro semestre, a média de negócios foi de 35 ao mês. Já entre julho e dezembro, essa média mensal pulou para 43,5, seguindo a onda da retomada da economia.

A professora Elizabeth Farina, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), ressalta que, ao ir com mais avidez às compras, o mercado sinaliza otimismo em relação ao desempenho econômico futuro: ¿ Esse é um bom termômetro para a economia. A empresa que tem recursos disponíveis está olhando para o futuro e vendo oportunidades.

A atenção internacional ao Brasil é um dos principais estopins dessa euforia. É o que diz o advogado Giovanni Biscardi, sócio do escritório Machado Meyer. Segundo ele, empreendedores do mundo todo estão avaliando ativos no Brasil para compra, o que gera um círculo virtuoso: ¿ A demanda já começou.

Quem não vende seus ativos aqui entende que está na hora de comprar outras empresas, para se consolidar.

Desde dezembro, vários negócios já foram anunciados. Em dezembro, as Casas Bahia foram compradas pelo Grupo Pão de Açúcar. Em janeiro, foi anunciada a compra da petroquímica Quattor pela Braskem, do grupo Odebrecht. Em fevereiro, a Cosan, maior empresa do setor sucroalcooleiro no Brasil, anunciou negociações com a Shell para a formação de uma joint-venture avaliada em US$ 12 bilhões. Também em dezembro, a Hypermarcas anunciou a compra do Laboratório Neo Química, fabricante de medicamentos genéricos.

A maior parte das fusões, porém, é de casos menos rumorosos e têm tramitação rápida.

De acordo com os dados da Seae, dos 471 processos que deram entrada no órgão, 314 tiveram tramitação sumária, em menos de 15 dias. Os demais 166 têm uma avaliação mais demorada, cujo tempo médio é de 88 dias

PAC, Olimpíadas, Copa do Mundo e pré-sal no radar O secretário de Acompanhamento Econômico acredita que em 2010 o número de fusões e aquisições pode voltar ao patamar de 2008. A consultoria Ernst & Young prevê que o volume de transações deve dar um salto de 20%, de acordo com Carlos Asciutti, sócio de Transações Corporativas: ¿ A palavra-chave é crescimento, e já está certo que o país crescerá 5% este ano. Alguns setores, como o automobilístico e o farmacêutico, estão crescendo muito mais do que isso.

Pesa na decisão dos empresários a expectativa dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento 1 e 2 (a segunda fase deve ser anunciada em 29 de março), além da Copa do Mundo, das Olimpíadas e das explorações do petróleo do pré-sal.

Nessa perspectiva, o consultor Ruy Coutinho , ex-presidente do Cade, aponta que empresas da área de infraestrutura e o setor de etanol devem ser os mais apetitosos no futuro. O levantamento da Seae já coloca a infraestrutura em primeiro lugar, com 9,5% dos casos.

¿ O cenário é animador, pois o governo acena para mais incentivos para infraestrutura. Na área de etanol, cujos investidores haviam recuado, os projetos agora serão retomados.