Título: Processo de impeachment de Arruda é aberto
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 05/03/2010, O País, p. 14

Governador acusado de comandar organização criminosa do mensalão do DEM perde apoio e pode ficar sem o cargo

DEPUTADOS DISTRITAIS na sessão que aprovou a abertura do processo de impeachment contra o governador afastado, José Roberto Arruda

BRASÍLIA. A Câmara Legislativa do Distrito Federal abriu ontem processo de impeachment contra o governador afastado José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), acusado de chefiar esquema de cobrança de propina, financiamento ilegal de campanha e compra de apoio político na capital federal. Por unanimidade, os 19 deputados distritais que participaram da sessão aprovaram o relatório de Chico Leite (PT), que cita os principais trechos do inquérito da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. Para o relator, Arruda cometeu pelo menos três tipos de crime de responsabilidade no cargo, o que justificaria a cassação do seu mandato.

Durante todo o dia, advogados do governador circularam pelos corredores e até pelo plenário da Câmara, que chegou a suspender a sessão marcada para as 10h. Mas a votação foi iniciada no fim da tarde e concluída em menos de dois minutos, refletindo o clima de abandono dos antigos aliados a Arruda.

Isolamento e perda de apoio em pouco tempo

Até ser preso preventivamente, há três semanas, Arruda ainda demonstrava controle total sobre a maioria dos deputados distritais. Ontem, até o líder do governo, Batista das Cooperativas (PRP), defendeu a abertura do processo de cassação.

O placar foi festejado pelos cinco distritais que integravam a minoria oposicionista até o início do escândalo. O relator Chico Leite lembrou que o processo de impeachment será iniciado às vésperas do aniversário de 50 anos de Brasília, a ser comemorado em 21 de abril.

- No momento em que a capital completa 50 anos, demos um grande passo para livrar a política daqueles que entram nela para se locupletar e fazer negócios. Não deixaremos que nenhuma manobra atrapalhe esse processo de limpeza da política do Distrito Federal - disse.

O presidente da Câmara, Cabo Patrício (PT), prometeu conduzir o processo de cassação com imparcialidade, mas antecipou que espera a aprovação do impeachment de Arruda.

- Vamos fazer um julgamento isento e transparente, dando amplo direito de defesa ao governador afastado. Mas não tenho nenhuma dúvida de que os parlamentares votarão a favor da cassação - disse.

Os deputados que compunham a base de apoio do governador afastado votaram rapidamente e evitaram declarações após o anúncio do resultado. Eliana Pedrosa (DEM) e Aguinaldo de Jesus (PRB), que integraram o Secretariado de Arruda, nem compareceram à sessão. O suplente Wigberto Tartuce (PMDB) alegou mal estar para não votar. A Câmara ainda tem duas cadeiras vagas desde a saída do governador interino Wilson Lima (PR) e a renúncia de Júnior Brunelli (PSC).

PF cumpre mandados de busca no Distrito Federal

Agora, o governador terá 20 dias para apresentar sua defesa por escrito. Depois, Chico Leite terá dez dias para concluir um novo relatório, que precisará ser aprovado por mais de dois terços dos deputados distritais. Nesse caso, Arruda ficará afastado do cargo por 120 dias e será julgado por um tribunal composto por cinco deputados e cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do DF.

Ontem, a Polícia Federal cumpriu seis mandados de busca e apreensão assinados pelo ministro Fernando, relator do inquérito que investiga o mensalão do DEM no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os policiais foram até a Câmara do DF para interceptar as mensagens eletrônicas do gabinete do deputado suplente Geraldo Naves (DEM), preso preventivamente na penitenciária da Papuda. Foram retirados do servidor central da Casa os e-mails trocados por ele entre 1º de janeiro a 4 de fevereiro.

Também foram realizadas buscas na sede da Companhia Energética de Brasília (CEB) e num dos endereços do empresário Gilberto Lucena em Goiânia. Ele é dono da Linknet, uma das firmas de informática acusadas de abastecer o mensalão do DEM. A PF ainda interceptou e-mails de Aroaldo de Carvalho, ex-diretor da CEB suspeito de participar da tentativa de suborno a uma testemunha do caso.

COLABOROU: Jailton de Carvalho