Título: Tarifa de Belo Monte sobe e custo vai a R$20 bi
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 05/03/2010, Economia, p. 31
Teto do valor para leilão da usina passa de R$68 a R$81 por MW/h. Investidor vê preço baixo e estima projeto em R$30 bi
BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO. A tarifa-teto do leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), será de R$81 o megawatt-hora (MW/h), informou ontem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) fez um novo cálculo dos investimentos necessários à construção do empreendimento, cerca de R$20 bilhões, elevando a tarifa - cujo valor remunera o consórcio vencedor. O setor privado, porém, considera o preço baixo. A licitação deve ocorrer na primeira quinzena de abril e ganhará quem oferecer a menor tarifa.
A proposta foi apresentada na quarta-feira pelo presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, ao Tribunal de Contas da União (TCU), que terá de aprová-la. Nos cálculos iniciais da EPE, aprovados pelo TCU, os investimentos estimados eram de R$16 bilhões e a tarifa-teto, de R$68 o MW/h. Os valores eram considerados muito baixos pela iniciativa privada, que avalia o custo do projeto em R$30 bilhões.
Belo Monte terá uma potência instalada de 11.233 megawatts (MW). Será a segunda maior do Brasil, atrás de Itaipu (com 14 mil MW), e o início de suas operações está previsto para entre 2014 e 2015.
Segundo Lobão, no dia 22 de fevereiro foi realizada uma reunião no Ministério de Minas e Energia em que foram debatidos os cálculos para a construção de Belo Monte. As empresas interessadas na licitação - as construtoras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht - apresentaram custos que não foram considerados pela EPE. Entre eles, construção de canteiros de obras e de casas para os trabalhadores; transporte de empregados; e 40 condicionantes ambientais do Ministério do Meio Ambiente. Estas, sozinhas, representam R$1,5 bilhão.
Para o consultor Afonso Henriques, ex-secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, o valor proposto ainda é baixo, se comparado ao cálculo de R$30 bilhões feito pelos investidores. Por exemplo, a construção do "canal de desvio" do rio consta do projeto de Belo Monte, mas tem grande risco de geologia, porque o terreno não é bem conhecido. Segundo ele, as empresas costumam reservar até 20% de recursos no seu orçamento para o risco geológico:
- Se os investimentos previstos pelo governo ficassem entre R$22 bilhões e R$24 bilhões, seria mais razoável. A tarifa-teto deveria girar em torno de R$90 o MW/h.
Braskem foi sondada por consórcios e analisa projeto
O presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), Mário Menel, também considera o novo valor dos investimentos abaixo do necessário. A empresa que construir a usina, lembrou, terá de transportar e alojar cerca de 20 mil trabalhadores, pois não há mão de obra especializada na região.
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia (Apine), Luiz Fernando Vianna, disse que a tarifa-teto final do leilão se aproxima dos preços das usinas de Santo Antônio e Jirau, ambas em Rondônia, se os valores forem atualizados. Mas ele alertou que os investimentos previstos pelo governo estão muito abaixo da expectativa do mercado:
- A tarifa-teto é mais razoável do que a anterior. Mas tudo vai depender de uma boa engenharia financeira, uma boa venda da energia para o mercado livre e da negociação com fornecedores.
Procuradas, Odebrecht, Camargo Corrêa e Vale não comentaram a mudança na tarifa-teto do leilão. A Braskem, por sua vez, confirmou ter sido sondada pelos consórcios que devem disputar a usina e que avaliará o projeto. Caso decida participar da licitação e a vença, Belo Monte será a primeira hidrelétrica da qual a petroquímica se tornará sócia.