Título: Após 2 meses em queda, produção da indústria cresce 1,1%
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 05/03/2010, Economia, p. 32/33

Na comparação com o mesmo mês de 2009, alta foi de 16%, no melhor janeiro em 15 anos. Mas setor só deve retomar patamar pré-crise no segundo semestre, dizem analistas

Após dois meses de retração, a indústria brasileira inicia o ano com mais fôlego. Em janeiro, a produção avançou 1,1% frente a dezembro, já com ajuste sazonal. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, o salto é maior, de 16% - melhor avanço para um janeiro desde 1995 (16,9%) -, influenciado pela fraca base de comparação, já que no início de 2009 a indústria sofria fortemente os impactos da crise global.

O resultado, divulgado ontem pelo IBGE, já era esperado pelos analistas, que preveem uma retomada da indústria este ano, após o tombo de 7,4% registrado pelo setor em 2009. E, mesmo com a alta recorde de janeiro, em 12 meses a indústria ainda amarga perda de 5% na sua produção.

De qualquer maneira, passado o pior da crise, a previsão dos economistas é que a economia brasileira cresça em torno de 5,5% este ano.

- Essa taxa (de 1,1%) devolve a perda acumulada nos últimos dois meses de 2009. Apesar dos avanços, a indústria brasileira ainda não está num patamar pré-crise - disse André Macedo, economista do IBGE, que aponta que a produção está num nível próximo ao de janeiro de 2008.

Produção de máquinas e equipamentos fica estagnada

Parte da expansão da indústria veio no setor de bens intermediários (2%, na comparação com dezembro), que produz insumos para a indústria, acrescentou Macedo. O que, para o especialista, pode ser um sinal de recuperação das exportações e de normalização da produção. Contudo, a produção de bens de capital - máquinas e equipamentos, um termômetro dos investimentos - ficou praticamente estável, ao recuar 0,1% frente a dezembro, depois de crescer 29% nos nove meses anteriores.

Dos 27 segmentos industriais pesquisados pelo IBGE, 14 aumentaram sua produção frente a dezembro. Os destaques vieram de produtos de metal (12%), material eletrônico e de comunicações (14,3%) e bebidas (8,1%). Já na comparação com janeiro de 2009, houve expansão em 23 das 27 atividades pesquisadas. A produção de automóveis avançou 41,4% nessa comparação.

Na avaliação do economista Felipe França, do banco ABC Brasil, a indústria deve continuar a trajetória de crescimento ao longo de 2010, mas só deve voltar aos patamares pré-crise no segundo semestre. E isso mesmo com a retirada dos incentivos concedidos pelo governo.

- A indústria vai crescer com as próprias pernas, pois as medidas, como a do IPI (reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados), serão retiradas - comentou ele, acrescentando que a relativa estabilidade na produção de máquinas e equipamentos não deve representar uma inversão na recuperação dos investimentos.

Para o economista José Francisco Gonçalves, do Banco Fator, a retirada dos incentivos do governo dará um freio na demanda, fazendo com que o crescimento da indústria seja mais lento nos próximos meses.

- O que se vê é uma recuperação que não é explosiva, confirmando a expectativa de crescimento sem pressão inflacionária - afirmou Gonçalves, mantendo as projeções do PIB de 2010 em 5,8%.

Para a economista Luiza Rodrigues, do Santander, o freio nos investimentos alimenta a pressão inflacionária, pois segura a expansão da capacidade produtiva do país.

- O Banco Central vai ter de desaquecer a economia. Para isso, deve subir a taxa de juros em meio ponto percentual já em março - disse a economista, que espera novas altas de juros até o fim do ano.

Indústria fluminense dá sinais de recuperação

No Rio, em janeiro, as vendas da indústria fluminense variaram 33% em comparação a janeiro de 2009 - é o melhor janeiro desde 2003, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Apesar disso, houve recuo de 27,99% nas vendas em relação a dezembro de 2009. Houve alta de 0,3% do pessoal ocupado em relação ao mês anterior, atingindo seu maior nível desde 2003. Frente ao mesmo mês de 2009, o emprego subiu 3,4%.