Título: Tremores em Pernambuco assustam moradores
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 10/03/2010, Ciência, p. 30
Abalos frequentes em Alagoinha atraíram pesquisadores. Falha geológica pode ser explicação
RECIFE. Chocados com o noticiário sobre os terremotos do Chile e do Haiti, os 15 mil moradores de Alagoinha, no interior de Pernambuco, estão apreensivos com a frequência com que a localidade vem sendo atingida por abalos, até então inéditos por ali. Desde o dia 3 de março, foram registrados 50 tremores, 39 dos quais nas últimas 48 horas. Por isso, o município é o mais novo alvo de estudos dos cientistas do Laboratório Sismológico do Departamento de Geofísica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
¿ Para nós, é uma nova área sísmica, pois não temos relatos históricos, nem registros por instrumentos dessas ocorrências em Alagoinha ¿ afirmou o pesquisador Heleno Carlos Castro de Lima Neto, enquanto se dirigia para a cidade, onde serão instalados equipamentos para investigar melhor o fenômeno.
Região sofreu 25 tremores em apenas um dia
Localizada a 227 quilômetros de Recife, Alagoinha fica no agreste, considerada uma das áreas sísmicas do Brasil. A região já dispõe de uma rede de sismógrafos instalados nos municípios de Gravatá, Caruaru e Sanharó. Foi o equipamento implantado em Sanharó que acusou a magnitude dos tremores observados em Alagoinha, que chegaram a 3,2 graus na escala Richter.
De acordo com os pesquisadores, essa magnitude não provoca prejuízos nas edificações. Mas habitações precárias da cidade começaram a apresentar rachaduras. Na noite de segunda-feira, foram observados 25 tremores e mais 14 na manhã de ontem, quando tiveram magnitude menor, de 2,5 graus.
Até fevereiro, Pernambuco tinha quatro pontos sísmicos identificados: dois em Caruaru, um em São Caetano, e outro em Belo Jardim. Os três municípios, como Alagoinha, ficam na região agreste, uma área de transição entre a zona da mata (onde se concentra a agroindústria açucareira) e o sertão.
¿ Em geral, a imprensa classifica como tremores quando a intensidade é menor, mas o que ocorre em Alagoinha é terremoto mesmo ¿ esclareceu Heleno.
Segundo o pesquisador, os abalos são provocados por falhas geológicas ativas. Mas como são abalos intraplaca ¿ diferentes do que ocorreu no Chile e no Haiti, onde o choque foi entre placas tectônicas ¿ não há motivo para pânico. Os pesquisadores tentam, agora, investigar o ponto de instabilidade na terra que vem provocando os abalos. Abaixo do território do estado há uma falha geológica, o lineamento Pernambuco, que possui 700 quilômetros de extensão, e que pode estar motivando os pequenos terremotos.
Sem ter como entender, nem orientar a população sobre a forma de enfrentar o fenômeno em Alagoinha, o prefeito Maurílio de Almeida (PTB) pediu ajuda aos especialistas.
¿ A população está nervosa. Isso para nós é novidade.