Título: Governo vai tentar mostrar PIB pífio de 2009 como retrato do passado
Autor: Barbosa, Flávia; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 10/03/2010, Economia, p. 25

Para evitar dano eleitoral, serão destacadas ação anticrise e geração de emprego

BRASÍLIA e RIO. O governo já está afiado para comentar, amanhã, oresultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviçosproduzidos pelo país) de 2009, que será divulgado pelo IBGE. Cientes deque a variação será próxima de zero ou negativa - um Pibinho quesepultará o discurso de que, no pós-Collor, estagnação é um registroapenas da era tucana -, ministros, secretários e parlamentares da basealiada farão o discurso de que o número oficial da atividade econômicaé um retrato do passado, amarelado pela rápida retomada do crescimentona virada do primeiro para o segundo semestre. Por isso, não teriaimpacto eleitoral.

- O número dificilmente será positivo, porque a pancada foi muitoforte no primeiro trimestre de 2009. Mas isso não quer dizer que aeconomia se encontra no estado que os números vão sugerir, e qualquerbrasileiro sabe disso - afirmou um técnico do governo.

- As pessoas já têm uma leitura sobre a crise, elas compreendem queLula foi o líder da resistência, usou os instrumentos comresponsabilidade e foi responsável pela geração de um milhão deempregos. Mais importante que o PIB isoladamente, é a sensação que aspessoas têm - disse o deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-presidente doPT.

O governo recorrerá a um leque de indicadores que mostram que aeconomia já não guarda vestígios significativos da crise que abalou omundo a partir de setembro de 2008. Isso estaria claro na retomada daprodução industrial, nas vendas do varejo, na geração de emprego, noaumento da massa salarial e na concessão de crédito às empresas e àsfamílias.

O governo vai ressaltar ainda sua habilidade no manejo da crise. Arapidez da retomada será creditada às medidas do Banco Central (BC) -liberação de compulsório, leilões de dólares - e, sobretudo, à políticaanticíclica (desonerações e fortalecimento dos bancos públicos). Oreconhecimento internacional será outro trunfo a ser usado:

- O mundo está admirado com o desenvolvimento do Brasil, e aaprovação do presidente cresceu durante o enfrentamento da crise -disse o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza(PT-SP).

A estratégia para minimizar o Pibinho vem sendo costurada desde oinício de dezembro, quando o Ministério da Fazenda reviu sua projeçãopara o crescimento em 2009 de 1% para 0,1%. A projeção para 2010 é de5%. A esta se somará uma média de 5,5% anual entre 2011 e 2014, nasegunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento.

Oposição vai bater no aumento de gastos

Escaldada pelas comparações - se o PIB for zero em 2009, a média decrescimento nos sete anos de governo Lula será de 3,98%, contra 2,48%nos oito anos de Fernando Henrique -, a oposição, nos bastidores, achadifícil explorar o assunto na campanha. Ainda assim, fará da divulgaçãodo PIB uma oportunidade para reforçar a bandeira contra o aumento degastos.

Líder do DEM, o deputado Paulo Bornhausen (SC) lembrou que o Brasilterá um Pibinho em 2009, enquanto a China alcançou 8% e a Índia, 5%:

- Houve um aumento de gastos no meio da crise, no lugar de aumentaros investimentos. O governo está sendo, no mínimo, desonesto com apopulação brasileira ao falar que a crise era uma marolinha.

O Bank of America Merrill Lynch rebaixou sua recomendação para acompra de títulos da dívida externa brasileira, de média de mercadopara abaixo da média. Segundo o banco, "os prêmios de risco (ou seja,retorno pago por esses papéis) estão muito apertados às vésperas daseleições". Já a agência de classificação de risco Standard & Poor"safirmou em relatório que uma possível mudança de governo "não develevar a mudanças significativas na direção das políticas econômicas".

COLABOROU Felipe Frisch