Título: Popularidade democrática
Autor: Mercadante, Aloizio
Fonte: O Globo, 07/03/2010, Opinião, p. 7

A última pesquisa do Datafolha mostrou números impressionantes.

De acordo com esse instituto, o governo Lula é considerado como bom ou ótimo por 73% dos brasileiros, e como regular por 20%. Apenas 5% o consideram ruim ou péssimo.

Trata-se do maior índice de popularidade de um governo, desde que o Datafolha começou a sua série histórica, em 1990. O que impressiona mais, contudo, é que essas cifras extraordinárias dizem respeito a uma administração que já tem mais de 7 anos. Assim, o governo Lula tem maior popularidade em seu final do que outros governos tiveram em seu início. A pesquisa revelou também que a précandidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, já encostou no seu provável maior adversário.

Esses números não surgiram por sorte. Eles são reflexo de um governo que está transformando o país. O governo Lula conseguiu ir além da mera estabilidade monetária e instituiu verdadeira solidez macroeconômica.

Com política externa ousada, obtivemos vultosos superávits comerciais que eliminaram nosso passivo externo. De devedores passamos à confortável posição de credores internacionais. Livramos-nos do FMI e da estagnação. Ademais, reduzimos consideravelmente a dívida líquida do setor público, sem introduzir novos impostos.

A solidez econômica atual, que contrasta vivamente com a instabilidade que vivíamos antes do governo Lula, nos permitiu superar a crise mundial, a maior desde 1929, com tranquilidade. Enquanto muitos países se debatem com desemprego em níveis estratosféricos, a nossa taxa de desemprego de dezembro de 2009 foi a menor da série histórica do IBGE. Neste ano, deveremos crescer cerca de 5%.

Tal solidez foi construída com base na elevação do social como o eixo estruturante da economia. Assim, o expressivo crescimento econômico recente foi acompanhado de distribuição de renda, redução progressiva da pobreza e incorporação de milhões ao mercado de consumo de massas. Retiramos cerca de 21 milhões de pessoas da pobreza e reduzimos consideravelmente a desigualdade social. O bolo cresceu sendo distribuído. Por isso, no cenário mundial o Brasil é visto como uma potência em ascensão, destinada a se converter na quinta economia mundial e a desempenhar papel de vanguarda na área ambiental, pois temos grandes vantagens comparativas na produção de energias renováveis.

Porém, isso explica apenas parte do prestígio e da aceitação do governo Lula. Há outro fator de grande relevo: o governo Lula é exemplarmente democrático. Num entorno no qual há significativa presença de regimes populistas e de práticas golpistas, o governo Lula preferiu o caminho consistente do aperfeiçoamento progressivo das instituições republicanas e da estrita observância da independência dos poderes.

Não houve tentativas de se estabelecer relação direta entre governante e governados, tão característica do populismo latino-americano, e tampouco se buscou um mandato adicional, ao contrário do ocorrido no governo passado. Acima de tudo, houve absoluto respeito à liberdade de imprensa, mesmo em momentos paroxísticos, quando setores radicalizados da mídia ouviam apenas a oposição conservadora. Mas o governo Lula sempre preferiu ouvir as vozes das críticas, ainda que profundamente injustas, a escutar o terrível silêncio que surge da anulação das liberdades.

Lula e o PT têm compromisso histórico inabalável com a democracia.

Desde o início, em plena ditadura, participamos ativamente das grandes lutas democráticas do país, como a da Anistia e a das Diretas Já.

Para nós, do PT, o comprometimento com a democracia é mais do que um compromisso político, é um compromisso de vida. Aqueles que põem em dúvida tal compromisso só podem fazê-lo de má-fé. Recorrem, de novo, ao terrorismo eleitoral, que desqualifica o debate democrático.

A grande popularidade do governo Lula não poderia se sustentar sem democracia. Assim, fazemos questão de ouvir e governar para todos, inclusive para os 5% da população que nos rejeitam e ainda para aqueles cujo errático comprometimento com o debate democrático qualificado fica, às vezes, seriamente fragilizado pelo desespero político e o vazio de propostas.

ALOIZIO MERCADANTE é senador (PT-SP).