Título: Um relacionamento antigo
Autor:
Fonte: O Globo, 08/03/2010, O País, p. 4
Segundo MP, grupo de Arruda já desviava dinheiro na gestão Roriz
BRASÍLIA. Com base em informações do ex-secretário Durval Barbosa e documentos obtidos nos últimos meses, o Ministério Público chegou à conclusão que os desvios de dinheiro atribuídos ao grupo do governador afastado José Roberto Arruda são superiores a R$100 milhões. Mas os prejuízos não param por aí. Os promotores calculam que parte do grupo, em atividade desde o início da década, desviou um montante ainda bem maior durante a administração do ex-governador Joaquim Roriz.
Boa parte dos auxiliares de Arruda acusados de receber propina de empresas com contratos com o governo local ocupou cargos estratégicos no governo Roriz. Um dos elos entre os dois grupos é justamente Durval Barbosa. Todo-poderoso presidente da Codeplan durante o governo Roriz, Durval ganhou a Secretaria de Relações Institucionais de Arruda e, no cargo, se tornou o principal operador do chamado mensalão do DEM.
A proximidade entre Roriz e Durval é antiga. Os dois aparecem juntos numa denúncia de corrupção ora apreciada pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça. A partir de uma investigação conduzida pelo ex-subprocurador-geral da República Roberto Santoro, Roriz e Durval são acusados de desviar aproximadamente R$30 milhões dos cofres públicos. O dinheiro teria sido usado para financiar a campanha eleitoral de Roriz em 2002.
Pelas investigações atuais, Roriz recebeu o cheque de R$2,2 milhões de Nenê Constantino em 13 de março de 2007 em troca da mudança da destinação do terreno no sul da capital. Constantino adquiriu o terreno por R$15 milhões em 2006, quando a área era reservada a construções de prédios para órgãos de instituições públicas. Alguns meses depois, com a liberação da área para qualquer tipo de construção, o valor do terreno subiu para R$44 milhões.
Na ação, o Ministério Público informa que o dinheiro teve como origem uma conta da empresa Callau Partners, nas Ilhas Cayman. Antes de ser transferido para a conta da Agropecuária Xingu, uma das empresas de Constantino no Brasil, os recursos teriam passado ainda por uma conta bancária na Suíça. A Callau aparece como responsável por um empréstimo de R$30 milhões à Xingu. Deste montante, R$2,2 milhões foram destinados a Roriz e a um grupo de auxiliares acusados de ajudar na mudança de destinação do terreno e também no desconto do cheque do Banco do Brasil no Banco Regional de Brasília (BRB).