Título: Bancoop é suspeita de superfaturar contrato
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 12/03/2010, O País, p. 9

Firma de vigilância de petista envolvido com aloprados foi contratada no lugar de outra, por mais do dobro do valor

SÃO PAULO. A análise preliminar dos dados bancários da Bancoop(cooperativa dos bancários de São Paulo) aponta para umsuperfaturamento, nos pagamentos de segurança particular, estimado ematé 150% a partir de 2005, na gestão de João Vaccari Neto. Neste ano, acooperativa passou por seus piores momentos de aperto financeiro.

Vaccari, hoje tesoureiro do PT, contratou a Caso Sistemas deSegurança, empresa de Freud Godoy, também petista e personagemenvolvido no caso dos aloprados. Os termos do contrato não sãoconhecidos, mas a despesa de vigilância da Bancoop cresceu de uma médiade R$40 mil mensais para R$100 mil mensais. Em pouco mais de um ano, aCaso faturou pelo menos R$1,5 milhão com a Bancoop.

A investigação criminal - que apura supostos crimes de formação dequadrilha, estelionato, apropriação indébita e lavagem de dinheiro -analisa os extratos bancários das contas da Bancoop e de empresas defachada ligadas à sua antiga diretoria. O rombo financeiro é estimadoem cerca de R$100 milhões, e há indícios de que os recursos teriamabastecido o caixa dois do PT, segundo o promotor José Carlos Blat.

Godoy ganhou notoriedade por envolvimento na tentativa frustrada deum grupo de petistas para comprar um falso dossiê contra tucanos naseleições de 2006. O grupo foi preso no Hotel Ibis, em São Paulo, comuma mala contendo R$1,7 milhão de origem não identificada, e chegou aapontar Godoy como chefe da operação.

A investigação da Polícia Federal revelou que Godoy realizouencontros com Gedimar Passos, suposto encarregado pela entrega dodinheiro. Godoy também trocou telefonemas com Vaccari, que esteve emcontato com Hamilton Lacerda, então coordenador da campanha do petistaAloizio Mercadante. O relatório final da CPI dos Sanguessugas livrouGodoy de maiores responsabilidades no episódio; Gedimar negou,posteriormente, ter dito que estava a mando de Godoy.

Godoy está fora do país e não foi localizado para comentar asinvestigações da Bancoop. Seu advogado, Augusto Botelho, consideraqualquer conclusão prematura, até que as investigações sejamconcluídos. Ele afirma ser necessário comparar os serviços oferecidos eprestados por cada empresa.

Em tese, porém, a Caso substituiu a equipe de Andy RobertoGurcysnka, para realizar os mesmos trabalhos de segurança da sede daBancoop: vigilância dos canteiros de obras e proteção particular dosdirigentes da cooperativa. Para Blat, causa estranheza o contrato desegurança com uma empresa com forte ligações com o PT, no momento emque a Bancoop enfrentava sérias dificuldades financeiras e nãoconseguia tocar as obras. Vaccari alega que assumiu a Bancoop pararealizar o saneamento financeiro.

- É prematura qualquer conclusão da promotoria quando asinvestigações ainda estão no início. A Caso é uma empresa ativa quepresta serviços para diversos clientes, inclusive para o diretório doPT em São Paulo e em campanhas políticas. Uma análise sobre valorescobrados requer verificação dos número de seguranças e serviçosprestados - disse Botelho.

Segundo Vaccari, Andy foi demitido por má-prestação de serviços. Emseu lugar, entrou Godoy. Andy é uma das testemunhas do caso Bancoop erelatou ter realizado as escoltas ao banco, onde quantias eram sacadase depois, supostamente, levadas a Vaccari. Este negou as acusações eafirmou que o Ministério Público age forma política e eleitoreira afavor do PSDB.

Ao GLOBO, Andy explicou que faturava de R$60 mil a R$70 mil ao mês,mas que parte do pagamento se referia à vigilância de outras duasempresas: a Germany e a Mirante, empreiteira e fábrica de blocos deconcreto que pertenciam a antigos diretores da Bancoop e teriam sidousadas para triangular e desviar recursos.

- Começamos em 2001 e estruturamos a segurança - disse Andy. -Trocaram a gente por uma empresa sem nada do que a gente oferecia. Amesma empresa que prestava serviço dentro do diretório do PT.

Cerca de oito mil páginas de documentos sob análise

Ontem, o promotor José Carlos Blat não quis comentar o andamentodas investigações, para não tumultuar o caso, que sofre ataquespolíticos. Ele aguarda a decisão do juiz sobre o pedido de quebra desigilo bancário pessoal de Vaccari e de outros dois ex-dirigentes daBancoop: Ana Maria Érnica e Tomás Edson Botelho Fraga.

Os outros três dirigentes suspeitos morreram num acidente de carroem Petrolina (PE) em 2004 - entre eles, Luiz Malheiros. Seu irmão,Hélio Malheiros, prestou depoimento e está no programa de proteção àstestemunhas.

Prosseguem as análises de mais de 8 mil páginas de extratos emovimentações bancárias, nas quais estão sendo feitas averiguaçõessobre as movimentações em dinheiro e a entrada e saída de recursos nasempresas de fachada e no Sindicato dos Bancários de São Paulo.