Título: Companheiro de viagem
Autor: Feuerwerker, Alon
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2009, Política, p. 4

Avalia o PT que a retomada da popularidade e da força política de Lula dificulta muito a ação de quem no PMDB deseja engatar o vagão na locomotivatucana

A um ano da definição oficial dos candidatos, começam a se desenhar cenários em locais estratégicos. No Rio Grande do Sul PT e PMDB caminham para ter cada um seu nome na luta pelo Piratini. Entre os petistas, a tese de abrir mão em favor do PMDB gaúcho não deu nem para a largada. Tarso Genro será o candidato, tendo concordado que a ministra Dilma Rousseff suba em dois palanques no estado, o dele e o de José Fogaça (ou Germano Rigotto). Com isso, o petismo riograndense espera neutralizar as tentações pró-tucanas do peemedebismo local.

No Rio de Janeiro o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), abriram, por iniciativa de terceiros, um canal de diálogo direto. Luiz Inácio Lula da Silva quer a aliança fluminense e agora o cenário mais provável é o PT oferecer o vice de Cabral na reeleição, podendo ser o próprio Lindberg. Outra opção do prefeito é o Senado. O fraco desempenho de Alessandro Molon ano passado na capital não deixa no Rio margem maior de manobra para quem no PT defende a candidatura própria.

Em Minas, há um ensaio de dança para levar o ministro Hélio Costa (PMDB) à reeleição no Senado. O também ministro Patrus Ananias concorreria ao governo, com o ex-prefeito Fernando Pimentel reservado para uma função de comando na campanha de Dilma. Dos três estados, Minas é onde a articulação está mais verde, dada a vantagem atual de Costa nas pesquisas. Há, porém, dúvidas, inclusive no PMDB, sobre sua capacidade de chegada num processo eleitoral polarizado com o nome apoiado pelo governador Aécio Neves.

Quando ¿ e se ¿ o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro e as Minas Gerais afinal forem equacionados o PT espera isolar o PMDB paulista, que já marcha nas fileiras tucanas. Isso apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, ele próprio de São Paulo, movimentar-se nos bastidores pleiteando a vaga de vice na chapa de Dilma. O problema de Temer: o controle do ex-governador Orestes Quércia, hoje aliado do governador José Serra, sobre a seção regional da legenda.

Conquistado o apoio do PMDB nos três estados, espera o PT garantir folgada maioria na convenção nacional peemedebista, e com isso capturar um tempo que dará a Dilma condições ideais para durante 45 dias desfilar no rádio e na tevê falando bem da administração Lula e defendendo que o governo deve continuar, agora pelas mãos dela. Mais: o apoio oficial nacional do PMDB será usado na Justiça Eleitoral para impedir que os ramos pró-tucanos do peemedebismo possam, nos dias reservados às campanhas estaduais, fazer campanha para o candidato a presidente do PSDB.

Mas, perguntaria Manuel dos Santos (o Garrincha) a Vicente Feola, e os russos, estão de acordo? Avalia o PT que a retomada da popularidade e da força política de Lula dificulta muito a ação de quem no PMDB deseja engatar o vagão na locomotiva tucana. Segundo essa esperança, o PMDB não trocaria o certo pelo duvidoso. Não abriria mão da gorda fatia que controla hoje na esfera federal, onde é o principal pilar do governo, para entrar dividido e coadjuvante numa composição que já tem donos. Aliás, é consenso entre os peemedebistas em Brasília que o partido alcançar com outros parceiros a influência que adquiriu ao apoiar o projeto político do PT é altamente improvável.

Com um trunfo adicional. Agora, quem está na cadeira é Lula, que de algum modo contrabalança a fraqueza relativa do PT. Sem Lula, um governo do PT ficaria bem mais dependente do PMDB, acredita o companheiro de viagem.