Título: Brasil cresce menos que os vizinhos entre 2003 e 2008
Autor: Rodrigues, Lino; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 12/03/2010, Economia, p. 27

Mas alta foi constante e com inflação em queda

O Brasil foi um dos países que apresentou menor crescimento doProduto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos nopaís em um ano) na América Latina entre 2003 e 2008. Enquanto aeconomia doméstica avançou 27,41% no período, a Argentina cresceu63,58%, o Panamá se expandiu 61,68% e o PIB do Uruguai subiu 52,71%,segundo dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe(Cepal). Com avanço inferior ao do brasileiro, aparecem México (19,80%)e economias bem menores, como Guatemala e Nicarágua.

Os fracos resultados de 2009, confirmados no Brasil e esperados portodos os países da região, não devem alterar o ranking. Nenhum país daregião divulgou ainda os dados do ano passado, exceto Peru, que cresceu0,9%, e Chile, que teve retração de 1,7%.

Para especialistas, isso demonstra que a região é heterogênea,embora, de forma geral, o período possa ser considerado bom para oslatinos. Ainda mais se comparado com os anos 80 e 90, quando diversasnações viviam problemas fiscais e cambiais. No entanto, crescimentorelativamente menor não significa, necessariamente, que a situação épior do que a de países que avançam muito.

- Para a Argentina, é mais fácil liderar esse período decrescimento, pois ela vinha de uma crise forte. Nos quatro anosanteriores, o PIB encolhera cerca de 20%. O forte crescimento nãonecessariamente traz investimentos. Para o investidor, é melhor umcrescimento menor e mais constante - afirma o presidente da SociedadeBrasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da GlobalizaçãoEconômica (Sobeet), Luís Afonso Lima.

Ele lembra que muitos dos países que tiveram expansão maior que ado Brasil, como Uruguai e Venezuela, se beneficiaram da alta nos preçosdas commodities agrícolas e do petróleo. Por outro lado, nações como oMéxico pagaram a conta por serem muito dependentes dos EUA.

Luiz Carlos Prado, professor da UFRJ, concorda que crescimento elevado não é garantia de economias mais sólidas.

- O Brasil cresceu com uma inflação decadente e com valorização nataxa de câmbio. Na Argentina, foi exatamente o inverso - disse.

Para Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial daFundação Getulio Vargas (FGV), o mais importante não é analisar osdados do passado e compará-los com países tão diferentes, e sim ver asperspectivas do Brasil, que são muito boas:

- O resultado de 2009 foi um hiato. Já em 2010 devemos retomar atrajetória de crescimento do PIB acima de 5% ao ano. (Henrique GomesBatista)