Título: Melhor que o mundo, pior que China e Índia
Autor: Rodrigues, Lino; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 12/03/2010, Economia, p. 27

A CONTA DA CRISE: País permanece a 9ª economia global. Para especialista, não será a 5ª em 2016, como diz o governo

Entre os Brics, Brasil só ficou à frente da Rússia, que despencou 7,9%. Peru foi um dos poucos a se expandir em 2009

Lino Rodrigues, Henrique Gomes Batista, Vivian Oswald e Martha Beck

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA. O Brasil sai de 2009 com pequena quedado PIB, que o coloca em posição mais confortável que grande parte dospaíses do mundo, principalmente os desenvolvidos, que amargaram perdasde até 8% no ano passado. Entretanto, não há o que comemorar:emergentes como China e Índia passaram longe dos resultados ruins ecresceram no ano passado 8,7% e 6,1%, respectivamente. Estes países, aolado de Brasil e Rússia, compõe o chamado Brics.

O comportamento da economia brasileira no ano passado não foisuficiente para alterar a posição do país no ranking global daseconomias, de acordo com uma projeção feita pela consultoria britânicaEconomist Intelligence Unit (EIU), realizada a pedido da BBC Brasil. Ouseja, o país termina 2009 como o nono maior do mundo.

De acordo com dados divulgados pelo IBGE, o Peru foi um dos rarospaíses, dos que divulgaram dados fechados até o momento, a registraralta na economia no ano passado: 0,9%. O Chile, apontado por muitoscomo modelo para a região, apresentou retração de 1,7%. Maior economiado mundo, os Estados Unidos, epicentro da crise global, registraramqueda de 2,4%, praticamente o mesmo patamar que a França (-2,2%) e oCanadá (-3,6%). O declínio foi maior nos países europeus, com Espanhacaindo 3,6%, Reino Unido, 4,8%, e Alemanha, Itália e Japão apresentandoquedas de 5%. Na lanterna, estão o México (-6,5%) e a Rússia (-7,9%).

O economista-chefe da consultoria Austin Rating, Alex Agostini,avalia que o resultado negativo do PIB brasileiro foi "interessante",na medida em que no último trimestre do ano houve uma superação emrelação aos números dos trimestres anteriores.

- Mesmo sendo negativo, o resultado (-0,2%) é motivo para o governocomemorar, já que outros países tiveram quedas muito significativas emsuas economias - analisou Agostini, lembrando que esse vigor econômicodo último trimestre do ano deverá continuar ao longo de 2010, puxado,principalmente, pelo consumo das famílias.

Os sinais negativos na Europa e no consumo dos americanos, segundoo diretor do escritório da Cepal no Brasil, Renato Baumann, não devemprejudicar a retomada da economia brasileira em 2010. Segundo ele, ocenário de recuperação das economias mais fortes e as boas expectativaspara o Brasil pressupõem um volume de investimento estrangeiro maior nopaís.

- Como não há nenhuma estimativa de crescimento do PIB do Brasilabaixo de 5% em 2010, está praticamente garantido que haverá umarecuperação da taxa de investimentos no país - acredita ele.

As boas expectativas para este ano, de crescimento da demanda, doemprego e da renda dos brasileiros, no entanto, não podem servir para ogoverno relaxar nas políticas fiscal e monetária, alerta Agostini:

- Este é o momento de manter a cautela para não tirar o país dessa trajetória de crescimento.

Entre os entraves, burocracia, tributos e juros altos

Para Agostini, o resultado de 2009 não altera as perspectivas decrescimento do PIB brasileiro para os próximos anos. Ele continuaapostando que o Brasil terá um crescimento mais forte, mas não chegaráa ser a quinta economia do mundo em 2016, como estima o governo.

-- Em 2009, foi registrado um ponto de inflexão em todo o mundo,então a dinâmica econômica (produção, consumo, renda e emprego) foigeral, mas com intensidades diferentes. Esse fato preservou aexpectativa de crescimento para os próximos cinco anos ao redor de 4,5%ao ano, em média - disse ele.

Segundo a Austin, o Brasil terminará 2016 ainda como a nonaeconomia do mundo, ficando atrás de EUA, China, Japão, Alemanha,França, Inglaterra, Rússia e Itália. Segundo Agostini, o país tem hojeentraves que atrapalham sua colocação no ranking, sendo que osprincipais são a burocracia, a elevada carga tributária, os juros altose o baixo volume de investimentos. Enquanto o Brasil investe menos de20% do PIB, na Índia esse percentual é de 30% e na China, de 40%.