Título: De volta ao crescimento
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 12/03/2010, Economia, p. 28

A crise financeira internacional de setembro de 2008 gerou umacontração abrupta na oferta mundial de crédito e uma crise de confiançaglobal. Houve retração no volume de comércio mundial, desaceleração nocrescimento das principais economias ao longo de 2009 e, no caso doBrasil, os resultados recém-divulgados pelo IBGE indicam uma queda de0,2% do PIB no ano passado.

O impacto negativo da crise internacional sobre o Brasil seconcentrou no último trimestre de 2008 e no primeiro trimestre de 2009.A partir de então, devido a uma série de iniciativas adotadas pelogoverno, a economia brasileira começou a se recuperar. As medidasadotadas pelo governo ao longo de 2009 marcam uma mudança de postura dapolítica econômica brasileira. Diferentemente de episódios anteriores,o governo agiu para atenuar em vez de aprofundar o impacto da criseinternacional.

Do lado monetário houve redução do compulsório dos bancos, expansãodo crédito por parte dos bancos públicos e queda significativa na taxabásica de juro. Do lado fiscal houve desonerações tributárias para asempresas e para as famílias, manutenção dos programas sociais, aumentono salário mínimo, expansão do investimento público e incentivo aoinvestimento privado.

Os estímulos dados pela política econômica e a capacidade deresposta dos trabalhadores e das empresas brasileiras resultaram em umarápida recuperação da economia. A recuperação começou pela expansão doconsumo e, a partir do segundo semestre de 2009, o investimento voltoua crescer aceleradamente.

Três iniciativas do governo contribuíram para a recuperação doinvestimento: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), queincentivou o investimento em infraestrutura; o programa Minha CasaMinha Vida, que estimulou o investimento em construção residencial; e oPrograma de Sustentação do Investimento (PSI), que recuperou oinvestimento em máquinas e equipamentos via equalização de taxas dejuro.

Os resultados do PIB no último trimestre de 2009 indicam que aatual trajetória de crescimento é compatível com a estabilidade dainflação. O investimento vem crescendo acima do restante da economia, oque contribui para aumentar a capacidade produtiva do país. O resultadofiscal do governo federal começou a melhorar no fim do ano passado, oque indica uma queda na dívida líquida do setor público em relação aoPIB. E o elevado estoque de reservas internacionais dá margem demanobra para o Brasil enfrentar novas flutuações que por venturaaconteçam na economia mundial.

As expectativas de mercado e as projeções do governo indicam que oBrasil deve retornar ao patamar de crescimento pré-crise já em 2010.Esta resposta bem sucedida do Brasil à crise internacional de 2008deve-se, sobretudo, ao novo tripé que orienta a política econômica nosúltimos anos: crescimento econômico, inclusão social e redução davulnerabilidade do Brasil a choques internacionais.

NELSON BARBOSA é secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda