Título: PIB amplia pressão por alta de juros
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 12/03/2010, Economia, p. 28

Devido à forte alta no 4º trimestre, BC pode iniciar aperto na próxima semana

Ronaldo D"Ercole e Henrique Gomes Batista

SÃO PAULO e RIO.A confirmação, pelos números do PIB divulgadosontem, de que a economia brasileira cresce a um ritmo muito forte desdeo fim de 2009 reforçou a convicção dos economistas de que um novo ciclode alta na taxa de juros referenciais (a Selic) é iminente. O quedivide os analistas são os 45 dias que separam a reunião do Comitê dePolítica Monetária (Copom) da próxima semana e a que acontece no finalde abril.

Aurélio Bicalho, economista do Itaú-Unibanco, está entre os queapostam que o BC dará a partida no aperto monetário imediatamente.Embora a inflação nos primeiros meses do ano tenha sido pressionada por"fatores transitórios", ele entende que a economia virou o ano muitoforte e o fim dos estímulos fiscais (a eletrodomésticos e automóveis)não é suficiente para desacelerar a atividade.

- Nossa avaliação é de que esse ritmo (2% no último trimestre) émuito forte e, com o estreitamento entre oferta e demanda na economia(hiato do produto), os riscos de pressão inflacionária crescem muito senão se começar a retirar os estímulos monetários imediatamente - dizBicalho.

Mesmo projetando uma expansão de 7% do PIB neste primeirotrimestre, e manutenção da economia aquecida nos dois trimestresseguintes, Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, acredita queo BC deve esperar até abril para elevar a Selic. Mesmo com o núcleo dainflação medida pelo IPCA já na casa de 5% em 12 meses.

- O BC está contra a parede, mas deve esperar porque até lá terátodas as informações sobre o primeiro trimestre, principalmente dosefeitos da demanda sobre a inflação - disse Vale.

O gerente-executivo da Unidade de Política Econômica daConfederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, afirmaque não há nenhuma justificativa para uma elevação de juros. Segundoele, a indústria está, de modo geral, com uma utilização da capacidadeinstalada três pontos percentuais baixo que a registrada em setembro de2008, antes da crise:

- Não batemos no teto da capacidade, podemos crescer sem inflação.O investimento estava muito forte em 2008 e estão sendo retomadosrapidamente - disse, lembrando que o crescimento do investimento noperíodo foi de quase 30%, na taxa anualizada.

Ele afirma que muitos economistas utilizaram o dado do crescimentodo PIB de 8,2% de forma anualizada (na comparação do resultado doquarto trimestre sobre o período anterior) para justificar a defesa deaumento dos juros, pois, do contrário, estaríamos tendo um crescimentochinês sem capacidade para tal. Em sua opinião, isso não é verdade:

- A economia é como uma mola, ela estava muito pressionada. Quandolivre, sobe com muita velocidade, mas com o passar do tempo avelocidade vai sendo controlada.

Já o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura eIndústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, mesmo descartando pressãoinflacionária na indústria - segundo ele, os números do quartotrimestre demonstram que os investimentos estão sendo feitos no momentocerto -, teme pelo gargalo na infraestrutura do país.

- Nós ampliamos a nossa previsão de crescimento do PIB em 2010 de5% para 6%, o que aumenta a necessidade de investimento eminfraestrutura, do contrário teremos gargalos importantes em portos,estradas, ferrovias e aeroportos - disse, lembrando que a situação émais grave pois muitos dos investimentos do setor estão com problemas,alguns por depender de orçamento público e outros por questõesambientais ou burocráticas.