Título: Supremo envia à Procuradoria-Geral inquérito que investiga Meirelles
Autor: Carvalho, Jailton de; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 12/03/2010, Economia, p. 31

Presidente do BC diz desconhecer acusações, que envolveriam crime tributário

Jailton de Carvalho, Luiza Damé e Carolina Brígido

BRASÍLIA. O ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal(STF), enviou ontem à Procuradoria-Geral da República os autos doinquérito em que o presidente do Banco Central (BC), HenriqueMeirelles, é investigado por crime contra a ordem tributária. Oprocurador-geral da República, Roberto Gurgel, negou que o indiciamentode Meirelles tenha partido dele, conforme informou o STF naquarta-feira. Segundo Gurgel, o caso tem como origem a Justiça Federalde Brasília. Caberá ao procurador-geral aprofundar a investigação ousugerir o arquivamento do caso.

Em nota divulgada no início da noite, Meirelles diz ter tomadoconhecimento da denúncia pela imprensa e que ainda não sabe qual é oconteúdo das acusações. "Henrique Meirelles informa, ainda, que recebecom serenidade a notícia do pedido de abertura de inquérito, uma vezque foi amplamente investigado no passado, com o arquivamento de todasas acusações a ele imputadas", diz o texto distribuído pela assessoriado BC.

Lula quer que Meirelles fique no governo até o fim

Na nota, Meirelles sustenta ainda que seu patrimônio é resultado"de árduo trabalho, com todos os seus rendimentos e bens declarados aosórgãos competentes, na forma da legislação".

O inquérito foi protocolado no STF no último dia 4. Na noite dequarta-feira, um assessor do tribunal informou que Meirelles aparecianos autos como indiciado por crime contra a ordem tributária. O autordo indiciamento seria Gurgel. O inquérito tem 105 páginas. Momentosdepois de o caso se tornar público, ainda na quarta-feira, JoaquimBarbosa decretou o sigilo da investigação.

Numa rápida entrevista ontem à tarde, Gurgel negou que oindiciamento tenha partido dele. As investigações teriam tido origem naJustiça Federal de Brasília. O procurador não especificou a Vara onde ocaso teria sido oficiado.

As assessorias de imprensa da Justiça Federal e da Procuradoria daRepública no Distrito Federal informaram que, em buscas preliminares,não encontraram referências às investigações contra Meirelles em seusbancos de dados. A Polícia Federal disse também que não atuou no caso.

- Em se tratando de autoridade com prerrogativa de foro no STF,quem deveria encaminhar ao Supremo é o procurador-geral da República. Aúnica hipótese em que isso pode acontecer é aquela que está tramitandoem primeiro grau e então, surgindo elementos em relação a essaautoridade, a remessa é feita pelo próprio juiz, que faz a remessa aoSupremo Tribunal Federal - disse Gurgel.

As informações sobre o novo inquérito não mudaram os planos dopresidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à carreira política deMeirelles. O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha,disse que o presidente vai tentar convencer Meirelles a continuar nogoverno até o fim de seu mandato, em vez de sair para disputar aseleições de outubro.

Ministro: Lula ainda vai discutir futuro de Meirelles

Segundo Padilha, a reunião para tratar do futuro de Meirelles - quepode disputar o Senado ou ser vice na chapa da pré-candidata do PT, aministra da Casa Civil, Dilma Rousseff - ainda será marcada.

- O presidente ainda não conversou com Henrique Meirelles sobreesse tema. Está se agendando essa conversa. Ele (Lula) já disse quegostaria de ter todos os seus ministros até o final do governo, não éele que quer que os ministros saiam. No processo de convencimento, temganho a partida. Vou repetir o que o presidente Lula falou sobreMeirelles: por ele, Meirelles e os outros ministros não sairiam dogoverno - disse Padilha.

O ministro participou ontem de reunião do presidente com líderes doPMDB - partido de Meirelles. No fim da reunião, Padilha evitou falarsobre o indiciamento do presidente do BC. No fim do dia, Meirellesesteve num evento em São Paulo, mas, seguindo orientação de seuadvogado, não deu entrevista.