Título: Justiça nega bloqueio de contas da Bancoop
Autor: Suwwan, Leila; Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 13/03/2010, O País, p. 14

Decisão também pede informações ao Ministério Público sobre quebra de sigilo bancário de João Vaccari Neto

SÃO PAULO. A Justiça de São Paulo negou o pedido de bloqueio das contas da Bancoop e solicitou mais informações ao Ministério Público Estadual para decidir sobre a quebra do sigilo bancário de João Vaccari Neto, presidente licenciado da cooperativa dos bancários e novo tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Em seu despacho, o juiz levou em consideração a proximidade de Vaccari com a pré-candidata Dilma Rousseff (PT) e demonstrou temor de contaminação política e manipulação eleitoral da investigação.

Apesar disso, o juiz Eduardo Lora Franco autorizou a abertura de todas as informações financeiras do ¿FDIC Bancoop 1¿, um fundo de investimento usado pela cooperativa para captar cerca de R$ 46 milhões no mercado em 2004. Há suspeita de que os recursos possam ter sido desviados para campanhas petistas. Os maiores investidores desse fundo foram três fundos de pensões de empresas estatais ¿ Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal).

O despacho do juiz aponta para a falta de embasamento do pedido de quebra de sigilo de Vaccari e solicita uma exposição das razões que levaram o promotor José Carlos Blat a solicitar apenas na semana passada as informações bancárias do tesoureiro do PT ¿ o argumento dos advogados de defesa é de que Vaccari não era gestor da Bancoop no período investigado (2002 a 2004), apesar de ter cargo de diretoria antes de assumir a presidência, em 2005.

O juiz criticou a divulgação antecipada do pedido na imprensa.

¿Não se pode desconsiderar a repercussão política que presente investigação passou a ter¿, inicia o juiz, lembrando que faltam apenas sete meses para as eleições e que ¿uma das pessoas de quem foi requerida a quebra de sigilo estaria sendo indicado como possível integrante da equipe de campanha da virtual candidata do partido¿.

Juiz defende cautela e rigor na análise de requerimentos ¿Tal contexto, porém, apenas reforça ainda mais a necessidade de cautela e rigor no exame dos requerimentos formulados, justamente para que tal atmosfera política não venha a contaminar a presente investigação ou, noutro sentido, que esta não venha a ser utilizada por terceiros para manipulação da opinião pública por propósitos políticos¿, diz a decisão da Justiça.

O pedido de bloqueio de todas as contas da Bancoop foi negado pela Justiça para evitar que toda a cooperativa fosse paralisada, prejudicando outras obras e tendo em vista que um acordo judicial já foi celebrado na esfera civil.

Procurado, Blat não quis comentar a decisão da Justiça.

Afirmou que continua trabalhando na análise dos dados recebidos há duas semanas.

As informações, citadas nos pedidos à Justiça, foram questionadas pelo juiz. Ele solicitou uma planilha com detalhes dos cheques descontados na boca do caixa para comprovar que as transações em dinheiro superam a cifra de R$ 18 milhões ou mais de 40% da movimentação da Bancoop. Segundo Vaccari, essas movimentações não eram saques e sim transações interbancárias.

Uma das testemunhas da investigação, o ex-chefe de segurança da Bancoop, Andy Roberto Gurczynska, afirmou ter feito a escolta de funcionários que teriam feito os saques.

¿ O juiz se portou com absoluta isenção. Foi cauteloso, e o único ponto em que cede, que é a movimentação do FDIC, está regular e vai ser positivo para nós ¿ disse o advogado Luiz Flávio D¿Urso.