Título: Edmar escala tropa de choque
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2009, Política, p. 6

O deputado Edmar Moreira (sem partido-MG), dono do castelo milionário no interior de Minas Gerais, escalou uma tropa de choque para trabalhar por sua absolvição no Conselho de Ética. A trinca suprapartidária é comandada por Milton Monti (PR-SP), Sérgio Moraes (PTB-RS) e Abelardo Camarinha (PSB-SP). O próprio deputado mineiro tem ido a campo para conversar com os colegas, lutando contra a perda do mandato e dos direitos políticos.

Os generais de Edmar não pouparam ninguém. Até o relator do processo no Conselho, deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), foi alvo de assédio. Foi abordado por deputados no cafezinho da Câmara em busca de pistas sobre seu relatório, mas tem despistado e mantido reservadas suas intenções. Nem assessores sabem se Fonteles pretende sugerir a cassação ou a absolvição de Moreira. O petista recusa-se a comentar o caso. Outro alvo do lobby é o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PR-BA).

Os argumentos pró-absolvição seguem sempre a mesma lógica: não era proibido usar dinheiro da verba indenizatória nas próprias empresas. E parlamentares relatam até alguns constrangimentos. Uma das abordagens é dizer que não adianta cassar Edmar Moreira no Conselho de Ética se o plenário o absolverá. ¿Dizem que cassá-lo trará desgastes para nós porque o plenário é amigo do Edmar¿, disse um deputado.

Um dos deputados mais fervorosos na defesa do colega é Sérgio Moraes, que fora escolhido relator, mas foi retirado do cargo após declarar intenção de arquivar a denúncia. Monti vem sendo conselheiro de Edmar desde o início do caso. Ele chegou a articular a fracassada manutenção de Moraes na relatoria. Camarinha já defendeu publicamente o acusado durante reunião no Conselho de Ética.

É com essas amizades que o deputado do castelo conta. Se for cassado no Conselho, ele espera ter, pelo menos, 283 deputados contrários à perda do mandato. Foi o número de votos que conseguiu ao ser eleito segundo vice-presidente da Câmara desafiando seu então partido, o DEM. Envolvido em denúncias, Edmar Moreira renunciou ao cargo. Para o seu lugar, foi eleito o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA).

O relator Nazareno Fonteles encerrou ontem a primeira fase dos procedimentos, a coleta de evidências, e vai se dedicar à elaboração do voto. O presidente do Conselho marcou a apresentação do relatório para a próxima terça-feira. Araújo lamentou que o relator não tenha conseguido ouvir todas as testemunhas. O chefe da segurança de Edmar Moreira, Jairo Lima, recusou-se a comparecer.

¿O ideal era que todos tivessem testemunhado. Espero que o relator tenha obtido os elementos necessários para fazer o relatório¿, disse o deputado baiano. ¿Por isso, propus a mudança das regras no Conselho e poder obrigar uma testemunha a comparecer¿, acrescentou. Fonteles vai elaborar seu relatório e voto com base nas acusações da corregedoria da Câmara, nos dois depoimentos do deputado Edmar Moreira, além no do chefe do Núcleo de Fiscalização e Controle da Verba Indenizatória da Câmara, Roberlan Tavares Costa.