Título: Resultado do PIB mostra indústria ágil para reagir a crises, diz BNDES
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 13/03/2010, Economia, p. 31
Economista afirma que 70% da queda do setor foram atrelados à exportação
Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) de 2009 - que apontou uma contração de 0,2% - indicou que o setor industrial nacional está capacitado para enfrentar crises. Essa é a opinião de Ernani Teixeira Filho, superintendente da área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do BNDES. Para ele, a indústria, que registrou uma queda brusca na produção no fim de 2008 e início de 2009, está retomando a atividade com a mesma intensidade:
- Observamos que a indústria está muito avançada na gestão, possui uma sensibilidade muito grande, que permite respostas rápidas em períodos de crise.
"A redução do IPI foi só um chamariz"
Segundo os dados divulgados anteontem pelo IBGE, a indústria se retraiu 7,6% no quarto trimestre de 2008 em relação ao período imediatamente anterior, com ajuste sazonal. Já no quarto trimestre de 2009, a expansão, na mesma base, era de 4%. Ernani, entretanto, acredita que diversas indústrias exageram no ápice da crise, contraindo-se mais que o necessário. Por outro lado, graças a isso, a situação foi revertida facilmente.
- O empresariado brasileiro é conservador, pois já vivemos muitas crises internacionais, e em todas o mercado doméstico sentia profundamente. Era praticamente consenso que o desemprego explodiria no segundo semestre de 2009, o que não aconteceu. A boa notícia é que a retomada da produção também foi rápida - afirmou.
Ernani lembra também que a situação foi pior para as empresas exportadoras: elas representaram 70% da queda da produção industrial. O economista acredita que essas indústrias vão melhorar de forma diferente ao longo do ano, pois a recuperação mundial também será gradual. Em sua opinião, enquanto China e Índia continuarão liderando o crescimento mundial, os Estados Unidos devem ter um comportamento razoável neste ano e, talvez, mais lento em 2011. Já para Europa e Japão, o economista espera um tempo maior de baixo crescimento.
Para ele, o mercado interno reagiu bem não por incentivos fiscais, mas pela manutenção e crescimento do crédito:
- A redução do IPI para os carros, por exemplo, foi só um chamariz. O que fez as pessoas comprarem foi o fato de haver crédito farto, grande parte garantido pelos bancos públicos.
Para ele, a economia brasileira tem boas perspectivas e pode crescer 5% ao ano nos próximos cinco anos. Em sua opinião, só há uma luz amarela: o aumento do déficit externo.
- O país precisará se financiar para realizar grandes investimentos, como a exploração do petróleo da camada do pré-sal - diz o economista.