Título: Vaccari arrecadava para mensalão, diz revista
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Fonte: O Globo, 14/03/2010, O País, p. 11

Doleiro beneficiado por delação premiada teria acusado tesoureiro petista de abastecer caixa dois do partido

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Uma testemunha ouvida pela Procuradoria Geral da República nas investigações do mensalão do PT citou, como envolvido no esquema, o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto. A informação consta de reportagem publicada na última edição da revista Veja. Vaccari é alvo de investigação do Ministério Público sobre supostos desvios de recursos na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), da qual é presidente licenciado.

Segundo a reportagem, o doleiro Lúcio Funaro, envolvido no mensalão, disse que Vaccari, à época diretor da Bancoop, intermediava operações entre fundos de pensão de estatais (como Previ, do Banco do Brasil, e Petros, da Petrobras) e bancos privados, dos quais cobrava comissões.

Isso serviria para alimentar o mensalão revelado em 2005 esquema pelo qual o PT utilizaria recursos de caixa 2 para pagar propina a deputados da base aliada. Os recursos arrecadados o pedágio cobrado por Vaccari variava de 6% a 15% do valor dos aportes dos fundos nos bancos, segundo Funaro abasteciam o caixa dois do PT.

Para livrar-se de acusações de fraudes, Funaro teria feito, em 2005, acordo de delação premiada com a procuradoria. Segundo a revista, ele contou ter se encontrado na Bancoop com Vaccari e o ex-deputado Valdemar Costa Neto, réu do mensalão.

Vaccari diz que objetivo das denúncias é atingir PT Segundo o doleiro, Vaccari agia em parceria com o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, sob o comando do chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Em nota ontem, Vaccari, que tem se recusado a falar das investigações sobre a Bancoop, nega as acusações feitas por Funaro e acusa a revista Veja de usá-lo para atingir o PT. Segundo ele, a acusação de Funaro não tem a mínima consistência, tanto que o Ministério Público não tomou qualquer medida contra ele a partir dos seus depoimentos, tomados em 2005.

Passados cinco anos, nunca fui chamado para prestar esclarecimentos ao Ministério Público federal. Nem mesmo fui informado da existência ou do teor desse depoimento. O MP não propôs ação contra mim, nenhuma denúncia foi apresentada diz Vaccari na nota divulgada pela Executiva do PT.

Ontem o jornal Folha de S.Paulo publicou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestará depoimento no processo do mensalão do PT dizendo que foi alertado sobre a existência do esquema antes de ele vir à tona. Lula já havia dito publicamente que o aviso foi dado e que pediu providências a Aldo Rebelo (PCdoB-SP), então ministro de Relações Institucionais, e Arlindo Chinaglia (PT-SP), que era líder do governo na Câmara em 2005. Nos bastidores do Supremo, a avaliação é que não haverá nenhuma mudança no curso do processo se Lula realmente der esse depoimento, porque as providências supostamente pedidas foram tomadas: o STF abriu inquérito para apurar o esquema, conforme pedido feito pelo Ministério Público Federal, o órgão com poderes para isso.

A oposição quer aguardar a oficialização do depoimento de Lula, mas adianta que ele pode trazer uma revelação grave.

Se o presidente confirmar aquilo que negou antes, será inexplicável e comprometedor insistiu o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).