Título: Em municípios do Rio, escolas reprovadas
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 14/03/2010, O País, p. 12

Salas da aula sem ventilação e com acústica ruim são alguns dos problemas que prejudicam aprendizado

Com 33 municípios na lista de prioritários do Ministério da Educação (MEC), devido ao desempenho ruim no Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb), o Estado do Rio não recebe recursos federais do Fundeb.

Uma das cidades com problemas é Duque de Caxias, que teve 3,7 pontos no Ideb nos anos iniciais e 2,7 nos anos finais na avaliação do MEC.

A Escola Municipal Visconde de Itaboraí, por exemplo, funciona desde agosto de 2008 num galpão alugado pela prefeitura. Como as salas de aula não têm janelas, a única abertura para ventilação é a grade no alto do portão de entrada.

Sem circulação de ar e com a cobertura de telhas de zinco, o calor fica insuportável nos dias de sol. Não bastasse o calor, a chuva não refresca o lugar e, sim, encharca as salas de aula.

Como o único lugar pelo qual entra ar é a grade, o calor é muito grande, não tem ventilação. O pessoal chama de frangueiro, forno de padaria, porque é muito quente. Quando chove, entra água em tudo, fica tudo alagado conta uma professora, que pediu para não ser identificada.

O barulho é outro problema que aflige alunos e professores. Não há paredes entre as salas, e a separação é feita com divisórias de compensado, iguais às utilizadas em escritórios. Assim como nos antigos Cieps, as divisórias não vão até o teto e, por isso, o som de uma sala vaza na outra.

A situação piora dramaticamente na hora do recreio: não há área aberta na escola, e a movimentação dos 366 alunos provoca um barulho insuportável.

Com dificuldades para aprender e de se concentrar, as crianças ainda sofrem com dores de cabeça e de ouvido, por causa das péssimas condições: O colégio é muito apertado, muito quente e barulhento. Tenho uma filha na pré-escola e outra no 2oano.

Elas reclamam que não conseguem estudar, chegam em casa com dor de ouvido e dor de cabeça. Disseram que era provisório, mas até agora nada conta a mãe de duas alunas que não quis dar o nome por medo de represálias.

A Prefeitura de Duque de Caxias informou, em nota, que já está em negociação para a compra de um imóvel no bairro onde funciona a escola. Sobre as verbas destinadas à educação, o município afirmou que a área precisa de investimentos para que seja possível ampliar o tempo de permanência do aluno na escola. Segundo a prefeitura, Caxias recebeu recursos do governo federal através de programas específicos como Proinfo e Mais Educação.

São Gonçalo está na mesma situação que Caxias. Sem recursos federais e com resultados críticos no Ideb (3,8 nos anos iniciais e 3,4 nos finais), o município possui escolas como a Carlos Drummond de Andrade. O prédio foi demolido em outubro do ano passado para dar lugar a novas instalações, mas, até hoje, foram feitas apenas as fundações.

Enquanto isso, a unidade funciona num galpão de madeira com telhas de zinco nos fundos do terreno. Nos dias de muito calor, a direção libera os alunos duas horas antes do previsto. A merenda também foi substituída por sucos, biscoitos e frutas, já que, devido ao risco de incêndio, não é permitido o funcionamento de um fogão.

A diretora Elizabeth Bastos explica que faz o possível para se adaptar às condições existentes. A entrega da nova escola, prevista para abril, foi adiada para o segundo semestre.

A gente se preocupa muito com os alunos. Faz muito calor na escola, então liberamos mais cedo. Servimos refresco nas salas de aula. Os exaustores já estão aqui para serem instalados, mas, por causa da chuva, não foram ainda.

A Prefeitura de São Gonçalo informou que já adquiriu exaustores para a escola e que o teto da unidade será pintado com isolante térmico, para minimizar o calor. Sobre os investimentos em educação, a secretaria municipal afirmou, em nota, que todo recurso é bem-vindo, pois a cidade é o segundo município do estado em população.