Título: Segurança relata escolta para saques da Bancoop
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 11/03/2010, O País, p. 3

E conta que depois Vaccari, hoje tesoureiro do PT, se reunia compresidente da cooperativa

Testemunha-chave na investigação do caso Bancoop, o chefe desegurança da Cooperativa Habitacional dos Bancários até 2004, AndyRoberto Gurczynska, afirma ter realizado a escolta de funcionários daentidade na realização dos saques em dinheiro operação que teria sidoutilizada para desviar somas milionárias dos empreendimentosimobiliários, parte deles supostamente para campanhas do PT.

Segundoele, o ex-presidente da Bancoop Luiz Malheiro, morto em acidente decarro em 2004, realizava encontros após os saques com João VaccariNeto, então presidente do Sindicato dos Bancários e hoje tesoureironacional do PT.

Gurczynska afirma, porém, que não presenciou asuposta entrega de envelopes de dinheiro. Vaccari nega as acusações esustenta que as transações investigadas pelo Ministério Público de SãoPaulo não eram saques e sim transferências interbancárias.

Ementrevista ao GLOBO na noite de anteontem, Gurczynska revelou que ocontrole de caixa do suposto esquema de desvio de recursos da Bancoopera acompanhado pela secretária particular de Luiz Malheiro, HelenaLage. Era ela quem programava os saques, enviava os funcionários eencomendava a escolta de seguranças.

Depois, contou ele, Helena recebia os recursos na sede da Bancoop

Encontros também com Berzoini

Além de encontros frequentes com Vaccari, o segurança relata queMalheiro também era escoltado para encontros com Ricardo Berzoini, naépoca em que este já era ministro da Previdência.

O petista eratratado como chefe. Gurczynska trabalhou para a Bancoop até a chegadade Vaccari, quando sua equipe foi substituída pela empresa Caso, deFreud Godoy, envolvido no escândalos dos aloprados um grupo ligadoao PT que tentou comprar um suposto dossiê contra o governador JoséSerra e outros tucanos nas eleições de 2006.

Eu ia até o bancocom mais um para escoltar, geralmente, uma terceira pessoa. Entrávamosaté determinada sala da tesouraria. De lá para dentro, a outra pessoaentrava e ela só trazia o pacote. Quando eu digo pacote, não era umpacote gigante.

Era coisa pequena. Muitas vezes era um envelope,muitas vezes aquele envelope grande, A4. Muitas vezes trazia no própriocorpo. A pessoa entrava e saía. Se pedia escolta, era para escoltaralguma coisa disse Gurczynska.

Ele aceitou conceder entrevista ao GLOBO, mas estava sob forte esquema de segurança e pediu para não ter o rosto fotografado.

SegundoGurczynska, os saques eram realizados por diversos funcionários dobaixo escalão administrativo da Bancoop, a pedido de Helena Lage, quetinha um bom levantamento de tudo o que entrava e saía.

Ela e o irmão do Luiz (Hélio Malheiro) são as provas vivas de tudo.

Eram as pessoas mais próximas a ele e que tinham conhecimento.

Hélioprestou depoimento e entrou no programa de proteção às testemunhas apósa morte do irmão. Helena, que não trabalha mais na Bancoop, segundodepoimentos, teria herdado a parte de Luiz Malheiro na empreiteiraGermany, que teria sido utilizada na triangulação e desvios de recursos.

(O dinheiro sacado) era entregue para quem solicitou nossa escolta.

Delá, a gente não via o envelope até a gente ser solicitado para ir paraoutro lugar, que muitas vezes era o sindicato (dos bancários, presididopor Vaccari) relatou.

Gurczynska disse que os saques dascontas da Bancoop, já em posse do promotor José Carlos Blat, quecomanda as investigações, seriam as provas materiais de seu depoimento,prestado ao MP em janeiro de 2008. Afirmou não ter mantido registro dosencontros do chefe, para o qual sempre realizou a logística prévia eescolta.

Uma vez, o Berzoini ganhou uma caneta Mont Blanc. Ele(Malheiro) disse que estava presenteando o chefe por alguma coisa disse Gurczynska, lembrando que o petista era ministro da Previdência etinha escolta da Polícia Federal.

Vaccari se disse perseguido por MP

Berzoini não foi localizado no celular ontem à noite. A assessoriade imprensa do PT informou que Vaccari Neto não concederia entrevistanem faria qualquer manifestação sobre o caso. Em entrevista ao jornalO Estado de S.Paulo de ontem, Vaccari negou a existência de caixadois no PT e o rombo de R$ 100 milhões na Bancoop, cifra estimada peloMP. Disse ainda que Helio Malheiros e Andy Gurczysnka foram demitidosda Bancoop por má prestação de serviços. Esse promotor quer sacanearcomigo porque sou petista, tesoureiro do PT, disse Vaccari naentrevista.

Seu advogado, Luiz Flávio DUrso, disse que Vaccarisó passou a gerir a Bancoop em 2005 e que Gurczynska sequer afirma tervisto a suposta entrega de dinheiro.

Vamos aguardar se ele depõe prestando compromisso, sob responsabilidade da lei por falso testemunho afirmou o advogado.

Osegurança disse que decidiu depor em favor das famílias prejudicadas nacompra dos apartamentos. Antecipando ataques, afirmou que é um doscooperados seu apartamento foi entregue e que cobrou na Justiçafatura de cerca de R$ 70 mil que teria ficado em aberto após suadispensa.

Não sou nenhum Robin Hood. Os cooperados queremJustiça, não estão querendo prejudicar ninguém. Acho que quando a genteconta a verdade, dá para sustentar o resto da vida.

Ontem, dezassociações de cooperados da Bancoop protocolaram pedido de intervençãoe dissolução da entidade no MP. O grupo se reuniu com o promotor deJustiça do Patrimônio Público e Social, Saad Mazloum, para detalhar asinvestigações e as suspeitas de fraude e desvios. O pedido seráencaminhado a um promotor por sorteio e correrá de forma independente.

Opromotor José Carlos Blat já pediu o bloqueio das contas da Bancoop e aquebra de sigilo de Vaccari Neto. A defesa do tesoureiro do PT recorreu