Título: Cabral: sem royalties, Copa e Jogos são inviáveis
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 14/03/2010, Economia, p. 35

Governador afirma que emenda Ibsen, que redistribui recursos do petróleo, é um massacre e que Rio pode quebrar

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), afirmou ontem que o Rio de Janeiro vai quebrar caso o Senado aprove e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancione a chamada emenda Ibsen, que redistribui recursos dos royalties de petróleo do pré-sal e pós-sal. O governador chamou a emenda de massacre e afirmou que a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 será inviabilizada.

O estado e os municípios fluminenses devem perder R$ 7,2 bilhões da arrecadação com o petróleo.

A emenda do pré-sal não apenas inviabiliza a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, como também qualquer outro investimento do Estado do Rio. Para tudo. Tudo. Os royalties representam de 12% a 15% da nossa arrecadação disse Cabral. Nem garantia para empréstimos vamos ter.

Não teremos dinheiro para qualquer tipo de investimento.

Ontem, Cabral reuniu na sede do governo do Rio prefeitos, deputados, senadores, sindicalistas, entidades de classe e representantes do Judiciário para convocar a população a uma grande mobilização contra o linchamento promovido pela Câmara na quarta-feira.

Este estado não fica cabisbaixo, não vai aceitar essa covardia afirmou.

Batizada de Contra a covardia e em defesa do Rio, a manifestação será na Avenida Rio Branco, no Centro. A concentração será às 16h, na Candelária, de onde seguirá até a Cinelândia.

O estado estabeleceu ponto facultativo a partir das 15h. Operários de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) serão liberados para o protesto. Ontem, na praia de Copacabana, foram distribuídos panfletos convocando para a manifestação por pessoas usando camisas do governo do estado.

Segundo Cabral, Lula teria assumido o compromisso de vetar o projeto. Se isso não ocorrer, Cabral pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o argumento de que a emenda é inconstitucional.

Firjan: três municípios do Rio entrarão em falência Municípios de diversos pontos do estado prometem participar da manifestação. Segundo a prefeita de Campos e exgovernadora, Rosinha Garotinho, ônibus serão alugados para trazer manifestantes.

Campos perderia R$ 800 milhões. Precisaríamos demitir funcionários e dificilmente cumpriríamos a Lei de Responsabilidade Fiscal disse Rosinha, que participou do evento apesar de ser adversária política de Cabral.

Segundo a Firjan, as receitas com petróleo representam em média 15,8% da arrecadação dos municípios do Rio. Sem os recursos, São João da Barra, Rio das Ostras e Quissamã que têm cerca de 70% do Orçamento dependente do petróleo iriam inevitavelmente à falência.

Na frente parlamentar, senadores do Rio, São Paulo e Espírito Santo reúnem-se terça-feira para definir estratégias. Marcelo Crivella (PRB-RJ), Paulo Duque (PMDB-RJ) e Francisco Dornelles (PP-RJ) adotaram um discurso conciliador no evento.

Não adianta levar uma mensagem de guerra, precisamos de uma mensagem de paz e discutir a dosagem da mudança disse Dornelles.

Na sexta-feira, o autor da emenda, deputado Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), disse à rádio CBN que há espaço para negociação no Senado.

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, garantiu ontem que a perda de arrecadação não vai afetar Copa e Olimpíadas, que terão recursos federais.