Título: Esperança de crescimento
Autor: Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2009, Economia, p. 12

Economistas revisam projeção do PIB e esperam avanço de até 1% neste ano

Marcello Casal Jr./ABr O ministro da Fazenda, Guido Mantega, calcula que o Produto Interno Bruto brasileiro crescerá 1% este ano Os analistas decidiram jogar parte do excesso de pessimismo fora e revisaram, para melhor, as projeções do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Depois de pintarem um quadro assustador para a economia brasileira, que, até setembro do ano passado, crescia a um ritmo próximo de 6%, eles, agora, já admitem a possibilidade de a soma de todas as riquezas do país fechar 2009 com avanço de até 1%. ¿Não há dúvidas de que o PIB do primeiro trimestre, com queda de 0,8% frente aos últimos três meses de 2008, mostrou um país mais resistente aos efeitos da crise mundial¿, disse o economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos. ¿É bem possível que o crescimento do país seja positivo, puxado pelo consumo interno¿, acrescentou. A se confirmar tal previsão, o Brasil fará parte de um seleto grupo de países que, independentemente dos estragos da crise, vão conseguir algum avanço.

O economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, está certo disso. Mesmo nos momentos mais agudos da crise, quando todos apostavam no caos, ele projetava um incremento de 0,3% para o PIB em 2009. ¿Diante dos números que vimos no primeiro trimestre, podemos falar em crescimento entre 0,6% e 0,7%¿, assinalou. Para ele, o Brasil está tirando proveito de uma política fiscal consistente que vigorou nos últimos anos e permitiu ao governo usar parte da poupança acumulada para incentivar o consumo das famílias. ¿Tenho certeza que o ajuste fiscal foi o capitão no processo de amadurecimento do país. É esse ajuste, inclusive, que permitirá o Banco Central continuar reduzir a taxa básica de juros (Selic) sem que haja riscos de pressão inflacionária¿, afirmou. ¿E mais: os investidores estrangeiros estão valorizando as vantagens do Brasil em meio à crise.¿

Na opinião do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, uma variação zero do PIB passou a ser o piso das estimativas para este ano. ¿Desde dezembro último, acreditávamos que a recessão já estava presente, mas também acreditávamos que a demanda doméstica conseguiria sustentar parte do crescimento, mantendo o PIB no terreno positivo. Mantemos a projeção (de crescimento) em 0%, mas aumentou a possibilidade de esse número ser, de fato, um piso. Se nada mais dramático acontecer no cenário internacional, não devemos ter um PIB negativo em 2009¿, assinalou. Ele ressaltou, porém, que a virada da economia só ficará clara a partir do terceiro trimestre.

Amortecedor Para Fernando Montero, economista-chefe da Corretora Convenção, ficou evidente que o tombo de 3,6% computado pelo PIB no último trimestre de 2008 foi um ponto fora da linha e, desde então, a economia voltou a caminhar em um patamar mais realista. Marcel Pereira foi além. ¿O que vimos nos primeiros três meses do ano foi um marco importante para derrubar o excesso de pessimismo¿, frisou. Diante dessa virada, o economista Guilherme da Nóbrega, do Itaú-Unibanco, avisou que o maior conglomerado financeiro do país já está revendo as estimativas para o PIB deste ano, que apontavam retração de 2%. Essa previsão, destacou ele, não é mais condizente com os bons números captados pelo IBGE no primeiro trimestre.

Segundo o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, além do consumo das famílias e do governo, que continuará fazendo a diferença nos próximos meses, a economia contará com um importante amortecedor para a crise: o setor de serviços, que avançou 0,8% na comparação com o quarto trimestre de 2008. ¿Ainda estou trabalhando com um PIB negativo para o Brasil neste ano. Projeto queda de 0,5%. Mas, até a manhã de hoje (ontem), estimava retração de 1,2%¿, disse. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, vai na mesma direção: em vez de queda entre 1,5% e 2%, ele aposta, agora, em recuo do PIB entre 0,5% e 1%. ¿Mas há, sim, chances de haver um crescimento positivo em 2009¿, admitiu. Pelos cálculos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o Brasil avançará 1%. Nas contas do Banco Central, o PIB crescerá 1,2%, com o governo sendo peça fundamental para que se chegue a tal número.

-------------------------------------------------------------------------------- análise DA NOTÍCIA Os freios do desenvolvimento

Apesar de os especialistas avistarem um cenário melhor para a economia neste ano e, principalmente, em 2010, quando o Produto Interno Bruto (PIB) deverá estar avançando a uma velocidade próxima de 4%, é preciso ter muita cautela quanto ao futuro. Os números computados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no primeiro trimestre indicaram uma retração sem precedentes nos investimentos produtivos, aqueles que asseguram mais emprego e renda. Não há como se falar em crescimento econômico sustentado sem investimentos.

Com o estouro da crise internacional, os empresários botaram o pé no freio e engavetaram a maior parte dos projetos de expansão e de aberturas de fábricas. Ficaram temerosos de que, com uma onda de desemprego e de achatamento da renda, não teriam para quem vender. Além disso, as empresas foram pegas com estoques elevadíssimos, o que obrigou muitas delas a simplesmente pararem a produção. O resultado disso foi que se criou uma capacidade ociosa enorme na economia. É aí que está o nó da questão. Mesmo que o PIB do primeiro trimestre tenha mostrado a força do consumo das famílias, com aumento de 0,7% ante os últimos três meses de 2008, dificilmente o setor produtivo desengavetará os projetos de expansão nos próximos meses.

Diante da queda de 12,6% da formação bruta de capital fixo no primeiro trimestre, a taxa de investimento do país recuou de 18,4% para 16,6% do PIB ¿ o menor nível para o período desde 2005. Está mais do que provado que, para crescer a um ritmo sustentado entre 4% e 5% ao ano sem pressões inflacionárias, o Brasil precisa que a taxa de investimento fique próxima de 25% do PIB. Olhando para o quadro atual, não há qualquer possibilidade de se atingir esse número tão cedo.

Primeiro, porque o empresariado continua ressabiado ante o clima de incerteza que ronda o mundo. Segundo, porque a taxa de poupança bruta do Brasil também recuou, passando, nos primeiros três meses do ano, de 15,3% para 11,1%. Esse número indica a capacidade de investimento do país. Nem mesmo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) conseguiu mudar esse quadro, a despeito de todo o alarde do governo, que gastou pouco mais de 1% do PIB em obras. Ou seja, além de cobrar mais confiança e empenho do setor privado na economia, o governo deveria começar a fazer a sua parte: investir em vez de gastar com o aumento de pessoal. (VN e Edna Simão)