Título: Gastos do governo e das famílias salvam PIB
Autor: Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2009, Economia, p. 12

Economia brasileira contraria previsões, surpreende e registra retração de apenas 0,8%

As medidas adotadas pelo governo federal para ampliar gastos públicos e estimular o consumo das famílias foram vitais para amenizar os efeitos da crise econômica mundial sobre o crescimento do país. Contrariando as previsões, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou queda de 0,8% no primeiro trimestre deste ano ante os três meses anteriores ¿ ficando abaixo das estimativas de mercado que chegavam à perda de até 3%. Na comparação com o primeiro trimestre de 2008, o tombo foi de 1,8%, posicionando o PIB brasileiro no 13º lugar entre 41 países, segundo ranking da Austin Rating.

Mesmo surpreendendo positivamente, o número divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou que o país se encontra em recessão técnica ¿ dois trimestres consecutivos de PIB negativo ¿, o que não ocorria desde 2003. Porém, mostra que há esperança de crescimento neste ano.

Assim que a crise mundial eclodiu, em setembro do ano passado, a equipe do presidente Lula anunciou uma série de medidas para estimular a economia como redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) na venda de automóveis, criação de novas alíquotas para a cobrança do Imposto de Renda e atualização da tabela. Além disso, liberou parte dos depósitos compulsórios para irrigar a economia com crédito.

Com essas iniciativas, e mesmo em um cenário de aumento do desemprego, as pessoas se sentiram incentivadas a consumir. No primeiro trimestre, os gastos das famílias avançaram 0,7% na comparação com os três meses anteriores. De acordo com a técnica em Contas Nacionais do IBGE, Cláudia Dionísio, o consumo das famílias vem desacelerando, mas ainda ficou positivo porque o crédito está sendo retomado e a massa salarial ainda é positiva.

Os dispêndios do governo com a administração pública também ajudaram. Devido em parte ao aumento dos servidores, os gastos públicos subiram 0,6%. Na comparação entre o primeiro trimestre de 2008 e 2009, os dispêndios das famílias foram ampliados em 1,3% e os da administração pública, 2,7%. ¿Mas novas ações de estímulo pelo governo não terão como sustentar a atividade econômica no longo prazo. Há um limite¿, afirmou o economista do grupo Santander, Cristiano Souza.

Do lado da demanda interna, essas foram as únicas contribuições positivas para o PIB. O investimento despencou 12,6% no trimestre, a maior redução desde 1996 quando o IBGE iniciou a série. Em percentuais do PIB, a taxa de investimento recuou de 18,4% nos três primeiros meses de 2008 para 16,6% neste ano (leia mais na página 13). ¿Isso é natural por conta da crise. Muitas filiais acabam remetendo recursos para fora ao invés de investir¿, afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. ¿A taxa de investimento teve forte queda por conta da mudança de cenário e aumento das incertezas por conta da crise¿, comentou a economista da consultoria Tendências, Marcela Prada.

Retomada lenta Dois setores foram responsáveis pela forte discrepâncias entre o número do IBGE e as estimativas de mercado. Um deles foi a indústria. Os sinais de retomada ainda são tímidos e os analistas esperavam números mais negativos que os apresentados pelo IBGE. Somente no primeiro trimestre, a queda foi de 9,3% ante igual período de 2008. A maior baixa foi registrada na indústria de transformação, que despencou 12,6% ¿ maior queda desde 1996. Outra forte retração foi verificada no setor de construção civil, que encolheu 9,8%.

O desempenho do setor de serviços também desmentiu as projeções dos economias, sendo o único a ter resultado positivo (1,7%) no trimestre. Os negócios foram puxados pela intermediação financeira e seguros e serviços de informação. No período, o setor da agropecuária recuou 1,6%.