Título: Governo argentino acusa Petrobras de causar desabastecimento no país
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 11/03/2010, Economia, p. 20

Embaixador brasileiro intercede e empresa diz que vai refinar petróleo "ao máximo"

BUENOS AIRES. O governo argentino acusou ontem a Petrobras e a Shell de provocarem desabastecimento nos postos de gasolina para forçar um aumento nos preços dos combustíveis.

Em um comunicado à imprensa, o ministro do Planejamento, Julio De Vido, anunciou que transmitiria à Embaixada do Brasil sua preocupação com a atitude pouco ética da Petrobras e que iria intervir para obrigar as empresas petrolíferas a utilizarem suas instalações e capacidade máxima.

Mais tarde, a pedido do ministério, o embaixador brasileiro em Buenos Aires, Enio Cordeiro, ligou para o diretor-geral da companhia no país, Carlos Alberto Costa, que concordou em aumentar o refino do petróleo ao máximo.

O comunicado assinado por De Vido foi divulgado um dia depois do anúncio, por parte da empresa hispano-argentina Repsol-YPF, de que iria importar 50 milhões de litros de gasolina, para suprir a demanda local. Essa e a primeira vez, em três décadas, que a Argentina tradicional produtora e exportadora de petróleo importa combustíveis.

Nos últimos 11 anos, a Argentina vem reduzindo sua produção de petróleo cru.

Soma-se à queda de produção um forte aumento na demanda, graças ao recente boom de venda de carros. Por isso, temos escassez explicou ao GLOBO Leandro Elesgaray, economista da consultora Abeceb.

Ministro argentino chama empresa de irresponsável Há vários dias, os motoristas de Buenos Aires tem feito fila nos postos de gasolina, tentando encher o tanque especialmente nos postos da Repsol-YPF, cujos preços são levemente inferiores.

O governo não tem adotado uma política que incentive a exploração e produção de petróleo: colocou um limite de US$ 42 no preço do barril exportado e subsidia o preço do combustível no mercado local, que é cerca de 15% abaixo da média internacional disse Elesgaray.

Ontem, De Vido deu outra versão para a escassez de combustíveis. Segundo ele, não existe falta de capacidade instalada. O problema é uma decisão, por parte dessas empresas (Shell e Petrobras) de refinar menos petróleo para causar desabastecimento, obrigando a YPF a aumentar seus preços. O ministro classificou a atitude das duas companhias de irresponsável, frisando que ela atinge diretamente os consumidores argentinos, ao obrigá-los a pagar preços mais altos.

Fontes da YPF disseram ao GLOBO que sua empresa foi a única que aumentou as vendas.

Nos primeiros dois meses deste ano, venderam 8,3% mais gasolina do que em janeiro e fevereiro do ano passado.

Nesse mesmo período, segundo as fontes, Petrobras, Shell e Esso reduziram sua produção, o refino de petróleo cru e sua comercialização.

Na terça-feira passada, quando surgiram notícias de desabastecimento, a Petrobras enviara um comunicado à imprensa, informando que suas refinarias estão operando com normalidade e processando a totalidade de sua produção de petróleo cru. A empresa também informou que estava comprando petróleo no mercado local para manter abastecida sua rede de comercialização de combustíveis.