Título: Apesar de objetivo comum, Cabral e Rosinha não se falam no Supremo
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 11/03/2010, Economia, p. 20

Atrasado, governador foi recebido antes por Gilmar Mendes. Prefeita esperou 1 hora

BRASÍLIA. Adversários políticos, a prefeita de Campos, Rosinha Garotinho, também presidente da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro), e o governador Sergio Cabral cumpriram ontem agenda lado a lado no Supremo Tribunal Federal (STF) em defesa da manutenção da receita de petróleo do Rio. Mas, apesar do objetivo comum, o encontro foi marcado pelo constrangimento.

Os dois não se falaram e o governador ainda submeteu sua antecessora a um chá de cadeira de quase uma hora.

Rosinha foi a primeira a chegar à ante-sala do presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, com antecedência de 20 minutos, para a audiência marcada para as 12h30. A ex-governadora e outros sete prefeitos ficaram aguardando em pé a chegada de Cabral. Alegando atrasos em compromissos no Rio, Cabral chegou ao STF com 45 minutos de atraso.

Às 13h15, sem cumprimentar Rosinha e os demais prefeitos, Cabral entrou apressadamente no gabinete de Gilmar Mendes.

Durante quase 10 minutos, Rosinha ficou em pé aguardando ser chamada para a audiência.

Visivelmente constrangida, a prefeita reclamou com assessores o fato de Cabral ter chegado atrasado e ainda ser atendido primeiro. Assessores lembraram que a audiência foi pedida pela Ompetro e que Cabral era um convidado.

Questionada por jornalistas se achava estranho estar esperando em pé, enquanto o governador falava primeiro com Mendes, ela simplesmente respondeu: Essa é uma constatação sua afirmou Rosinha, visivelmente sem graça.

Mas a deferência a Cabral tinha uma justificativa. Pelo protocolo do Supremo, em audiências públicas, o presidente da Casa recebe inicialmente a maior autoridade presente, no caso o governador. Os prefeitos só são chamados posteriormente.

De acordo com dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Campos, governada por Rosinha, é a cidade mais afetada, em valores, pela emenda Ibsen, que perderia R$ 1,188 bilhão do R$ 1,193 bilhão que hoje recebe em participações governamentais sobre a exploração de petróleo. Macaé (perdas de R$ 515 milhões), Rio das Ostras (R$ 342 milhões) e Cabo Frio (R$ 201 milhões) são os municípios que vêm a seguir.

O encontro com Gilmar Mendes ontem teve como motivação pedir ao presidente do Supremo a votação da Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) proposta pelo deputado fluminense Geralda Pudim (PMDB) requesitando que a apreciação da emenda Ibsen na Câmara fosse proibida ontem em plenário.

Isso não ocorreu. O pedido de liminar já havia sido negado pela ministra Ellen Gracie.