Título: Juros passam a cair menos
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 10/06/2009, Economia, p. 14

Diminui a pressão para que o Copom faça um corte maior na taxa básica da economia, a Selic

Atenção:¿O resultado bem melhor do PIB, mostrando que o consumo interno não sentiu tanto o impacto da crise mundial, provocou uma mudança nos rumos da política monetária. O BC terá que ser mais cauteloso¿ Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da SLW Asset Ontem, o Banco Central deu início, em clima de alívio, à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para definir a taxa básica de juros (Selic) que vigorará nos próximos 45 dias. O anúncio de que o Produto Interno Bruto (PIB) do país encolheu 0,8% no primeiro trimestre do ano frente aos últimos três meses de 2008 ¿ abaixo das estimativas do mercado, que variavam entre 0,9% e 3% de contração ¿ não só reduziu as pressões dentro do governo para um corte maior da Selic, como levou grande parte dos analistas a reverem suas apostas para a decisão que será anunciada hoje.

No Ministério da Fazenda, onde estava o principal foco de pressão sobre o BC para uma redução de pelo menos um ponto percentual nos juros, que estão em 10,25% ao ano, já se admite uma baixa de 0,75 ponto. No setor privado, as estimativas passaram de redução entre 0,75 e 1 ponto para um recuo de 0,5 a 0,75 ponto. ¿O resultado bem melhor do PIB, mostrando que o consumo interno não sentiu tanto o impacto da crise mundial, provocou uma mudança nos rumos da política monetária. O BC terá que ser muito mais cauteloso no corte da Selic daqui por diante¿, disse o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho. ¿Além de os juros caírem menos, o ciclo de cortes será menor¿, acrescentou o economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos.

O raciocínio é o seguinte: como a economia está mostrando uma resistência muito maior do que a imaginada ao efeitos da crise mundial, há o temor de que, mais à frente, quando o ritmo de crescimento da atividade estiver rodando entre 4% e 5% ao ano, os formadores de preços se sintam motivados a remarcar seus produtos, elevando a inflação. ¿Por enquanto, não há o menor sinal de retomada da inflação. E tudo indica que, neste ano e em 2010, a inflação ficará abaixo do centro da meta (4,5%)¿, afirmou o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira. Por isso, acredita ele, há espaço para o Copom baixar a Selic para até 9% ao longo dos próximos meses.

Eleições Segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, tudo indica que os juros vão cair 0,75 ponto hoje, 0,5 ponto na reunião de julho e, provavelmente, 0,25 ponto em setembro. Com isso, a Selic cravaria 8,75% ao ano. Esse cronograma, porém, dependerá do nível da retomada da produção, que continua no chão, apesar de a indústria ter mostrado ligeiro avanço desde o início do ano. ¿Tecnicamente, o país está em recessão, há uma capacidade ociosa grande e o Brasil está avançando muito abaixo de seu potencial¿, assinalou. ¿Mas é preciso ser cauteloso, para que o Copom não seja obrigado a elevar a Selic em 2010, quando se espera que a economia já esteja crescendo entre 4% e 4,5%¿, complementou.

Esse é o temor do governo. Por isso, o presidente Lula está dando aval à política conduzida pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. ¿Não podemos esquecer que 2010 é ano de eleições. Não seria adequado termos um aumento de juros no meio da disputa¿, comentou um assessor de Lula. O mais importante, segundo ele, é que os juros estão em queda e, hoje, o BC anunciará um fato inédito em pelo menos 30 anos: a Selic ficará em um dígito, enterrando de vez as profecias de que o Brasil não seria capaz de conviver com juros abaixo de 10% porque a inflação voltaria com força. ¿Teremos mais uma bandeira para mostrar aos eleitores¿, destacou.

Não se pode esquecer ainda, na opinião da Jankiel Santos, do BES, que o ritmo de recuperação da economia brasileira dependerá da evolução da economia mundial. Caso a recessão que tomou conta dos países mais ricos ¿ Estados Unidos, Japão e Europa ¿ se prolongue além de 2009, não veremos um salto tão forte do Brasil. Sendo assim, o BC não precisaria ser tão cauteloso nos cortes dos juros. ¿Mas tudo indica que se chegou ao fundo do poço e já se fala em aumento dos juros nos EUA para inibir eventuais focos inflacionários. O Copom levará isso em conta nas suas avaliações¿, emendou Thadeu Filho.