Título: Dilma: Não critico Lula nem que a vaca tussa
Autor: Jungblut, Cristiane ; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 11/03/2010, O Mundo, p. 26

Oposição diz que comentários do presidente sobre Cuba desqualificam o Brasil no cenário internacional

Oliveira Evandro Éboli e Soraya Aggege* BRASÍLIA e ARAÇATUBA, SP*. Integrantes do governo e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram evasivos ao comentar as declarações do presidente, que comparou os dissidentes de Cuba a presos comuns e defendeu o sistema judiciário na ilha. Já deputados da oposição criticaram duramente a postura de Lula que, segundo eles, desqualifica o Brasil no cenário internacional.

Em Brasília, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que uma das formas de acabar com episódios como a greve de fome dos dissidentes é ajudar Cuba a se desenvolver e eliminar o embargo comercial.

Em visita a Araçatuba, no interior de São Paulo, a ministra da Casa Civil e candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ao ser perguntada sobre o caso por três vezes, disse que não criticará Lula nem que a vaca tussa, e repetiu que compartilha integralmente de sua política externa.

Vocês não vão me tirar aqui uma crítica ao presidente nem que vaca tussa. Mais do que o que ele disse (sobre política externa), é o que ele fez. Sabem por quê? Porque ele nos deu orgulho de ser brasileiros, ele nos deu dignidade mundial afirmou Dilma, depois de ser lembrada que ela mesma foi presa política durante a ditadura brasileira.

Brasil vem fazendo a sua parte, diz Amorim Segundo Celso Amorim, o Brasil vem fazendo a sua parte para ajudar Cuba, por meio do comércio e de investimentos, principalmente em infraestrutura.

O ministro, no entanto, evitou referências diretas às declarações de Lula.

Eu acho que o presidente, que teve experiência ele próprio de ter feito greve de fome, exerce uma autocrítica em relação a isso.

Deputados petistas que integram a Comissão de Direitos Humanos evitaram criticar as declarações e saíram em defesa do presidente quando parlamentares da oposição o acusaram de defender um regime autoritário.

A presidente da comissão, Iriny Lopes (PT-ES), disse não conhecer a manifestação de condenação de qualquer organismo internacional de direitos humanos à questão da greve de fome dos presos políticos cubanos. Ex-presidente da comissão, Luiz Couto (PT-PB) afirmou que as declarações foram divulgadas de forma editada na imprensa brasileira.

Janete Pietá (PT-SP) também preferiu atacar a imprensa e disse que as declarações de Lula foram tiradas do contexto.

O PT tem sido agredido por manchetes enganadoras disse Janete Pietá.

Já o vice-presidente da comissão, o ex-petista Paulo Rubem Santiago (PDT-PE), criticou Lula: Ele deveria aproveitar o bom trânsito que tem no governo cubano e, sem ferir a autonomia do país, interferir para que práticas como essas não aconteçam.

Para os líderes na Câmara do DEM, deputado Paulo Bornhausen (SC), e do PSDB, deputado João Almeida (BA), a postura desqualifica o Brasil no cenário internacional.

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), foi à sede provisória do Palácio do Planalto entregar a carta de um grupo de dissidentes cubanos pedindo que Lula interceda para que o governo de Cuba liberte 20 presos políticos, evitando, assim, a morte do jornalista opositor Guillermo Fariñas, em greve de fome.

Foi uma frase infeliz nivelar os prisioneiros de consciência aos presos comuns. Ele nivelou ele mesmo e Dilma a ladrões e estupradores.

Ontem, Lula participou pela manhã da inauguração da refinaria Euzébio Rocha, em Cubatão (litoral de São Paulo). Depois de discursar ao lado da ministra da Casa Civil, saiu sem falar com os jornalistas.