Título: EUA ainda fraco
Autor: Leitão, Míriam
Fonte: O Globo, 17/03/2010, Economia, p. 22

EUA ainda fraco A economia americana ainda respira com a ajuda de aparelhos. Ontem, o Fedmanteve os juros zerados e disse que eles ficarão assim por um longotempo. A indústria está 10% menor que em 2008; o desemprego continuapróximo de dois dígitos; o varejo está 5% mais fraco que antes dacrise. O mercado imobiliário permanece paralisado; a confiança doconsumidor é mais baixa que após o 11 de Setembro.

Os gráficos mostram as duas pontas da crise. O primeiro é do mercado imobiliário, onde o problema começou.

Osnúmeros indicam que a atividade permanece num ritmo muito fraco, nacomparação com o período anterior à recessão. As novas construçõesestão em torno de 600 mil unidades, menos de um terço do que se via em2005, e quase a metade do patamar de 2008. O segundo gráfico é da taxade desemprego, que é a última e mais visível ponta da crise. Ocrescimento, como podem ver, foi assustador para os níveis históricos,e a taxa permanece próxima de dois dígitos.

A avaliação doeconomista Fábio Silveira, da RC Consultores, é de que a economiaamericana ainda não dá sinais de crescimento sustentável, mesmo após aalta de 1,4% do PIB no 4otrimestre do ano passado: A indústria produzno mesmo ritmo de 2002; o comércio vende no patamar de 2006; o créditoao consumidor se retrai pelo 11omês consecutivo; a confiança doconsumidor é mais baixa que após os atentados terroristas de 11 desetembro de 2001; as importações recuaram 25% em 2009 e devem crescerpouco em 2010. Tudo isso sinaliza que o nível de atividade está baixo,mesmo após os estímulos econômicos promovidos pelo governo explicou.

Deacordo com Fábio, a retração do crédito assusta pelo círculo vicioso: Os bancos não emprestam porque têm medo do calote. As empresas nãopegam emprestado porque a confiança do consumidor está baixa. Osconsumidores não tomam crédito porque o desemprego está alto e eles nãoquerem fazer dívidas.

De acordo com a economista Monica deBolle, da Galanto, após o colapso no sistema financeiro provocado pelaquebra do Lehman Brothers, a recuperação americana não podia mesmoacontecer em um ritmo mais rápido. Ela acredita que o principal receiopara 2010 foi afastado, o de uma nova recessão, mas que o risco foiadiado para 2011, quando o governo terá que começar a remover aspolíticas de estímulo, para diminuir o déficit público, que este anopassará de 10% do PIB.

Ninguém sabe ainda o que aconteceráquando os estímulos econômicos forem retirados. E isso terá que começara ser feito a partir do próximo ano porque o déficit americano precisacair da casa dos 10% para algo em torno de 3% até 2015 explicouMônica.

Ontem, o Fed decidiu manter os juros zerados e disse queeles permanecerão nesse patamar por um longo tempo. Também comunicou ofim do programa de compra de ativos hipotecários, mas isso não foivisto pelo mercado como sinalização de aquecimento da atividade.

De acordo com Monica, esse foi um programa emergencial, para combater a crise sistêmica, e o seu fim já estava programado.

A grosso modo, essa medida se compara com a decisão do nosso Banco Central de aumentar os compulsórios.

Éa retirada de um programa emergencial, que está mais relacionado aocolapso do sistema financeiro que ao nível de atividade da economia disse.

O mundo está hoje melhor do que estava há um ano, ninguémtem dúvida, mas permanece longe de voltar normal. A economia americanaé só um exemplo.