Título: Defesa de Dirceu diz que acusações de Funaro são ilações criativas
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Fonte: O Globo, 16/03/2010, O País, p. 4

Lindberg também nega envolvimento e chama corretor de criminoso BRASÍLIA e SÃO PAULO. O ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu negou ontem ter recebido propina em negócios do fundo de pensões Portus. Ele vinculou as denúncias à proximidade das eleições deste ano.

Por meio de seu advogado, José Luís Oliveira Lima, o petista disse estranhar que um depoimento de 2005, desconsiderado pelo Ministério Público Federal no oferecimento da denúncia do mensalão, tenha vindo à tona às vésperas do pleito presidencial.

O advogado sustentou que Dirceu nunca teve contatos pessoais, por telefone ou por terceiros, com o corretor Lúcio Funaro. Acrescentou que, em depoimento à 2ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, em 2008, Funaro sequer tenha citado seu cliente. Ele classificou as denúncias de ilações criativas.

As acusações são levianas e não correspondem à verdade afirmou.

O prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, que disputa a indicação do PT para concorrer ao Senado nas próximas eleições, demonstrou indignação ao ser informado do teor do depoimento.

Segundo ele, a história não faz sentido, porque Marcelo Sereno, ex-secretário de Comunicação do PT, apontado como responsável pela coleta de propina em negócios da Fundação Núcleos para favorecê-lo, seria seu desafeto político.

Esse sujeito (Funaro) é completamente irresponsável! Não conheço ninguém nessa fundação, e o Marcelo Sereno sempre foi um adversário violento nosso. Esse Funaro é um criminoso, não tem idoneidade para sair atirando para tudo quanto é lado. Se quiser fazer isso, tem que apresentar alguma prova protestou Lindberg.

Advogada pedirá explicação ao MP

O deputado federal ACM Neto (DEM-BA) chamou as acusações de absurdas e contraditórias, pois, na época da CPI dos Correios, era apontado por parlamentares petistas como defensor de Daniel Dantas. Segundo ACM Neto, Funaro tem motivos para odiá-lo, porque teve a quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal quebrados na CPI.

Pode haver alguém tão complicado quanto ele, mas não mais disse o deputado.

Além disso, ACM Neto lembra ter sugerido o indiciamento de Funaro por vários crimes cabeludos ao fim da CPI. O deputado era subrelator da comissão.

Nunca tive qualquer contato com esse senhor, direto ou indireto. A primeira vez que o vi foi no depoimento à CPI. Aliás, ele só compareceu depois de ameaçado de prisão.

Antes, fugia o tempo inteiro afirmou.

Procurado pelo GLOBO, o deputado federal Rodrigo Maia (RJ) alegou jamais ter conversado com Funaro ou escalado alguém para fazê-lo. E frisou que o relatório da CPI foi severo com o corretor. O deputado José Mentor (PTSP), acusado por Funaro de ter tirado do relatório da CPI do Banestado pessoas ligadas ao PT, não respondeu aos telefonemas do GLOBO para comentar o tema.

Os responsáveis pelo fundo Núcleos, da Eletronuclear, não foram encontrados. Marcelo Sereno, que teria participado dos supostos desvios, também não foi encontrado.

Funaro não foi localizado ontem em São Paulo. Sua advogada, Beatriz Catta Preta, disse que está preparando um pedido de esclarecimentos ao Ministério Público do Paraná, onde Funaro depôs. Segundo ela, a colaboração sob acordo de delação premiada é sigilosa e o vazamento pode prejudicar o delator.