Título: Assassino de Glauco é preso ao tentar deixar o Brasil
Autor: Hartmann, Anderson ; Wurmeister, Fabiula
Fonte: O Globo, 16/03/2010, O País, p. 9

Durante a fuga, Carlos Eduardo, que confessou ter atirado no cartunista e em seu filho, baleou um policial

EM ENTREVISTA, Carlos Eduardo confessou o crime: ¿Fui eu, fui eu¿

FOZ DO IGUAÇU (PR.) O assassino confesso do cartunista Glauco Villas Boas e do filho dele, Raoni, o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, foi preso na noite de anteontem, no Paraná, com a pistola Taurus 765 e a munição calibre 0.32 que usou para cometer os dois crimes. Ao ser preso, na fronteira com o Paraguai, trocou tiros com policiais. No interrogatório, segundo a polícia, confessou ser o assassino do cartunista e do filho, dizendo que matou porque ¿cumpriu um chamado de Deus¿, ¿uma missão¿.

Em entrevista em Foz do Iguaçu, ele confessou o crime.

-¿ Fui eu. Fui eu ¿ confirmou Cadu, que tentou explicar como matou o cartunista:

¿ Peguei e falei: você f. com a minha vida. Demorou. Vou f. com a sua também. Aí atirei. O filho dele veio pra cima de mim. Atirei no filho também ¿ disse Cadu, sem explicar o que Glauco lhe fizera.

¿Tô com uma arma na mão no meio do mato, apontando a arma para um cara famoso. Olha, os caras vão me condenar à pena de morte no Brasil ¿ disse Cadu, ao explicar por que tentou fugir para o Paraguai.

¿ Ele fala coisas desconexas. Diz saber que o mundo está acabando e que a reencarnação de Jesus Cristo está próxima ¿ contou o delegado Marcos Paulo Pimentel, da Polícia Federal em Foz do Iguaçu.

Carro usado na fuga foi roubado em São Paulo

Ao ser preso, o rapaz carregava 2,7 gramas de maconha. O estudante queria viver de forma clandestina no Paraguai, onde compraria documentos falsos. De acordo com o delegado Cleo Mazzotti, da Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal interceptou o carro usado por Cadu, um Fiesta Sedan preto, na BR-277. Durante a perseguição, houve troca de tiros. O carro havia sido roubado, no domingo, em São Paulo. Já na Ponte da Amizade, Cadu só se rendeu depois de esgotar a munição.

Agora ele será indiciado também por tentativa de homicídio contra um policial rodoviário federal. A informação consta no inquérito aberto pela PF de Foz do Iguaçu. O policial recebeu um tiro no braço e foi operado ontem para a retirada da bala.

Segundo depoimento prestado à PF, desde o assassinato de Glauco, na madrugada de sexta-feira, Cadu ficou escondido em Cotia, na Grande São Paulo, onde planejou a fuga. Foi de Cotia que partiu o telefonema de Cadu para a viúva de Glauco, Beatriz Galvão, na noite de sábado.

Segundo o delegado José Alberto Iegas, da PF, Cadu estava disposto a fazer qualquer coisa para cruzar a fronteira.

¿ Ele disse que desejava a qualquer custo sair do Brasil, mesmo que tivesse de matar um policial ¿ disse o delegado.

De acordo com o delegado, ele será transferido para São Paulo, onde responderá pelas mortes, além do roubo do veículo. Ele foi levado ontem ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer exames.

Por volta das 21h40m do domingo, próximo da fronteira com o Paraguai, quando o Fiesta Sedan passou pelo posto em Santa Terezinha de Itaipu, a 15 quilômetros da Ponte da Amizade, os policiais identificaram o automóvel ¿ que constava de um informe de roubo em São Paulo ¿ e saíram para o que seria mais uma recuperação de carro roubado. Perseguido, Cadu não atendeu à ordem de parar e disparou contra a caminhonete da PRF.

Advogado diz que confissão ¿não significa nada¿

Cerca de uma hora depois, o rapaz tentou cruzar a fronteira. Na cabeceira da ponte, fez novos disparos contra os policiais e só parou ao ser surpreendido por uma barreira montada por homens da Marinha paraguaia. Ao tentar voltar, sempre atirando, atingiu o braço de um policial e foi interceptado no meio da ponte, onde acabou preso.

O advogado Gustavo Badaró, que defende Carlos Eduardo, disse que está havendo exploração indevida da imagem do rapaz. Segundo ele, Cadu não está em seu estado normal, e o fato de ele ter afirmado que atirou em Glauco e Raoni não significa nada.

¿ Basta olhar para o olho dele, os gestos. Cadu não deveria ter sido filmado na prisão. Foi errado. O fato de ele ter confirmado que atirou em alguém não significa nada. Disse sim como poderia ter dito não. Acho desrespeito o que estão fazendo.