Título: Recontando a história
Autor:
Fonte: O Globo, 16/03/2010, Economia, p. 19

Senador e ex-ministro têm versões diferentes para encontro em Brasília

Os bastidores do Plano Collor, que completa hoje 20 anos, continuama gerar polêmica. Duas entrevistas publicadas no GLOBO no últimodomingo provocaram uma troca de acusações entre o senador FernandoCollor (PTB-AL) e o ex-ministro Delfim Netto. Na entrevista de Delfim,ele diz que não foi procurado pela equipe de Collor antes do plano.Ontem, Collor procurou o jornal para dar sua versão: Não sei se ele(Delfim) foi procurado (pela equipe). Mas ele omite que conversei comele depois que já tinha sido eleito. O convite me chegou pelo (entãodeputado) Ricardo Fiúza. Ele (Delfim) e o senador Roberto Camposdisseram que gostariam de ter uma conversa diz Collor, acrescentandoque o encontro teria ocorrido, provavelmente em janeiro, na casa dodeputado Amaral Netto, em Brasília.

E o que eles queriam? Queriam mais ouvir. Perguntaram quem seria o presidente do Banco Central.

Disse que tinha vários nomes. Quando citei o Ibrahim Eris, Delfim reagiu entusiasticamente.

Roberto Campos protestou: Esse nome não pode. É um fiscalista.

Naentrevista ao GLOBO publicada no domingo, Collor dizia que, poucos diasapós o plano, Delfim teria pedido uma audiência com ele e, em seugabinete, teria elogiado o bloqueio de dinheiro: Genial, nem eu com oAI-5 na mão conseguiria fazer algo parecido.

Ontem, Collordisse como teria continuado essa parte da conversa. Delfim ainda teriadito: É genial (a ideia do bloqueio), até porque, é claro, que essedinheiro não vai ser devolvido.

Não, eu vou devolver, de acordo com o que está na lei, em 18 parcelas, teria respondido Collor a Delfim.

Ah, essa eu quero estar vivo para ver, teria rebatido o ex-ministro.

E viu todos os recursos serem devolvidos. Eu, constrangidamente, tenhoque desmentir esse senhor octagenário que, talvez por isso mesmo, tenhaesquecido desses detalhes.

Procurado, Delfim Netto rebateu: Essa é a versão dele. Fui lá (ao encontro de Collor) para sugerir quedevolvesse tudo com papéis de seis, 18, 24, 30 meses. Assim, seriapossível pagar impostos e não paralisaria investimentos.

Delfim nega o adjetivo genial: Imagina se eu ia dizer uma bobagem dessas. Ele (Collor) é um megalomaníaco.

Umacoisa é certa: nunca tive conhecimento do plano afirma Delfim, quenão se recorda da reunião com Fiúza e Campos na casa de Amaral Netto. Nem sei onde morava o Amaral... Essas testemunhas foram bem escolhidas acrescentou ainda, referindo-se a Campos, Fiúza e Amaral Netto, todosjá falecidos.