Título: Oposição quer CPI para investigar Vaccari
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 15/03/2010, O País, p. 3

Depoimento de doleiro ligaria atual tesoureiro petista ao escândalo do mensalão

BRASÍLIA. A oposição classificou como gravíssima a denúncia que aponta a existência de um elo entre o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o esquema do mensalão, que veio à tona em 2005. O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), avisou que o partido irá trabalhar pela criação de uma CPI que apure a participação de Vaccari no suposto esquema de cobrança de propina em negócios financeiros realizados por fundos de pensão de estatais para abastecer um caixa 2 do PT.

A acusação consta de depoimentos do doleiro Lúcio Funaro, que negociou delação premiada com o Ministério Público Federal em 2005, segundo a revista "Veja".

- O fato novo é a digital do operador dos fundos de pensão. A Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo) é apenas a ponta do iceberg. Se a Justiça é lenta, nada justifica o fato não ser investigado por instrumentos mais ágeis, que são congressuais. O DEM vai trabalhar para fazer uma CPI - disse Agripino.

O senador acrescentou:

- É uma demonstração clara de que o Estado nas mãos do PT dá nisso: os fundos de pensão, segundo denúncia, são operados política e partidariamente, lesando os beneficiários com percentuais que variam de 6%, 12% e 15%.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, diz que os depoimentos, tomados há cinco anos, não motivaram ações do Ministério Público e da Justiça. Ele enfatiza que Vaccari não foi chamado a depor nem é considerado réu em processo:

- Estamos chegando a uma situação de absoluto desvirtuamento do Estado de Direito. Como alguém é acusado, em um processo que corre em segredo de Justiça, parte dele vai para revista, e a pessoa nunca foi convidada a depor? Uma denúncia que teria sido feita em um depoimento dado há cinco anos. (Vaccari) se vê na condição de réu pela revista e não pelo Ministério Público ou pela Justiça. Isso surge porque é ano de eleição.

Dutra mantém a intenção de tomar providências sobre o caso.

- É uma escalada partidária contra o PT. É preciso tomar providências. O poder de denunciar deixou de ser do MP e passou a ser de setores da imprensa que agem de forma partidária.

Os tucanos também reagiram. O líder do PSDB, deputado João Almeida (BA), diz que irá estudar com a assessoria o que pode ser feito, pois na Câmara, no caso de CPI, o governo tem ampla maioria:

- Os fatos são graves e falam com muita força. O PT, em vez de desqualificar a denúncia, deveria descaracterizar os fatos e não ficar com essa choradeira.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), que integrou a CPI do Mensalão, disse que os integrantes da comissão encontraram ligação entre os fundos de pensão, corretoras e a Bancoop e incluíram os dados no relatório final, aconselhando o aprofundamento das investigações:

- Não deu tempo de investigar. Diante da denúncia, parece haver o elo. O assunto estava hibernando, agora terá que ser apurado.

Embora as recentes denúncias contra Vaccari remontem aos primórdios do suposto mensalão do partido, o petista não será incluído no processo que investiga o esquema no Supremo Tribunal Federal (STF), que está na reta final de depoimentos, com expectativa de julgamento dos 40 réus no fim de 2011. A entrada de mais um réu no processo atrasaria o término das investigações e, com isso, haveria risco de prescrição dos crimes antes mesmo do julgamento.

Vaccari é alvo de outra investigação, esta do Ministério Público Estadual de São Paulo, sobre desvios de recursos da Bancoop, que ele já presidiu. A investigação criminal do esquema Bancoop começou em 2007, a partir de queixas de cooperados e indícios de triangulação de recursos que teriam sido supostamente desviados para campanhas eleitorais do PT desde 2002. O rombo financeiro da cooperativa dos bancários é estimado em R$100 milhões, com pelo menos 3 mil famílias afetadas. O Ministério Público pediu a quebra de sigilo de Vaccari.