Título: Motorista de assassino de Glauco se apresenta
Autor: Farah, Tatiana ; Costa, Donizeti
Fonte: O Globo, 15/03/2010, O País, p. 4

Interpol acionou alerta para prender o acusado do crime, que telefonou anteontem para mulher do cartunista

GLAUCO: CRIME foi premeditado, segundo depoimentos de testemunhas

FELIPE (de verde) e um policial: ele diz ter sido ameaçado pelo amigo

SÃO PAULO. O estudante Felipe de Oliveira Iasi, de 23 anos, motorista do carro que levou Carlos Eduardo Sundfeld Nunes à casa do cartunista Glauco Villas Boas, na noite de quinta-feira, quando ele e seu filho Raoni foram assassinados, se apresentou ontem à tarde na delegacia de Osasco, na região metropolitana de São Paulo. Iasi chegou à delegacia por volta de 16h35m, acompanhado de um advogado, Cássio Pauletti. Ele foi liberado após prestar depoimento ao delegado Archimedes Cassão Veras, que apura o caso.

Iasi apresentou-se voluntariamente. Segundo contou o advogado Pauletti, o estudante estava em casa na noite de quinta-feira quando recebeu um telefonema de Sundfeld Nunes, o Cadu, assassino do cartunista e de Raoni. Convidado a sair, teria ido ao encontro de Cadu que, ao entrar no carro, teria colocado uma arma em sua cabeça, obrigando-o a levá-lo até a casa de Glauco. Cadu foi recebido pela enteada do cartunista, Juliana, e teria feito com que ela chamasse a mãe, Beatriz Galvão, a Bia.

¿ Felipe percebeu que Cadu estava falando coisas desconexas, dizendo ser Jesus Cristo ¿ disse o advogado.

Iasi contou que saiu do carro, viu e ouviu parte da discussão. Disse que não foi embora porque Cadu tomou-lhe a chave. Depois, conseguiu recuperar a chave e saiu, deixando Cadu para trás. Ele só soube do duplo homicídio pela televisão, no dia seguinte, segundo o advogado.

Mulher de Glauco diz que assassino fugiu com o amigo

Não é o que disse, porém, a mulher de Glauco, Bia, em entrevista ao ¿Fantástico¿. Ela contou que, durante a discussão, pediu ajuda a Felipe Iasi, que assistia a tudo de olhos arregalados, e que ele nada fez. Disse também que, depois do crime, Cadu saiu no carro com o amigo.

Bia disse que Cadu estava muito nervoso, parecia drogado, e ordenava que o chamassem de ¿poderoso¿. Nervosa, ela disse que ele era Jesus Cristo ¿ o que Glauco não fez.

¿ Ele estava com uma expressão transtornada, uma cara de drogado, totalmente fora de si. Quando o Glauco desceu, ele já chegou e já deu um soco na cara do Glauco, já derrubou ele. Aí, nesse momento ele pegou e tacou a coronhada do revólver na minha cabeça e me xingou, me jogou pro lado.

Bia contou que, anteontem, Cadu ligou para seu celular. Muito nervosa, ela perguntou como ele tinha coragem de telefonar depois do que fizera, e o rapaz desligou. A polícia reforçou a segurança da casa e da Igreja Céu de Maria, em Osasco. Também estaria tentando rastrear a ligação para localizar o jovem.

O assassino continuava foragido ontem. No prédio em Higienópolis onde mora Valéria Sundfeld Nunes, sua mãe,vizinhos informaram que o rapaz, que mora com os avós, não aparece para visitar a mãe há três meses.

Pelos depoimentos das testemunhas, o assassino teria premeditado o crime. Segundo o depoimento de Wagner Pinheiro, concunhado de Glauco, depois de render Juliana, Cadu agrediu Bia com uma coronhada quando ela apareceu. Atraído ao local, Glauco não acreditava que Cadu portasse uma arma de verdade. Ele então teria jogado uma das balas da arma no chão e mandado o cartunista pegá-la.

Quando ele se abaixou, Cadu o teria agredido com um soco e disparado. Raoni, filho do cartunista, que chegava da faculdade, pediu de joelhos ao amigo que parasse, quando foi alvejado.

A Secretaria Nacional de Justiça disparou alerta vermelho para a Interpol para que, se encontrado fora do Brasil, o assassino seja preso. Aeroportos e fronteiras estão em alerta.