Título: Fundos de pensão arriscaram dinheiro na Bancoop
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 21/03/2010, O País, p. 12/13

Cooperativa, hoje mergulhada em denúncias de fraude e desvios políticos, montou operação em que assume sozinha rombo no FDIC

SÃO PAULO. Cinco anos depois de ser lançado com pompa e prestígio, ofundo de investimento da Bancoop (Cooperativa Habitacional dosBancários de São Paulo) deve ser liquidado neste mês com um prejuízoacumulado de quase R$ 34 milhões. O tamanho exato do rombo que ficou nocolo da cooperativa é uma incógnita.

A operação foi montada deforma a garantir uma saída honrosa para os fundos de pensão deestatais e outros investidores deixaram de lucrar R$ 11 milhões, masse livraram do papel podre da Bancoop, hoje mergulhada em denúnciasde fraude e desvios políticos.

A Bancoop divulgou em informativoenviado a milhares de cooperados na virada do ano que O FDIC Bancoopnão existe mais e que os compromissos foram honrados. O queaconteceu é que a cooperativa não deve mais a terceiros, tornou-se adona única do desfalque. Para isso, desembolsou R$ 18 milhões derecursos próprios adicionais para bancar a saída dos demais. De acordocom o balancete de fevereiro, enviado à Comissão de Valores Mobiliários(CVM), o FDIC acumula R$ 33,97 milhões em recebíveis vencidos e nãopagos.

O FDIC é um fundo de investimento em direitoscreditórios, no qual os investidores aplicam uma soma inicial e recebemo dinheiro de volta com prazos e lucros programados. Entre 2004 e 2005,a Bancoop captou R$ 37,5 milhões no mercado R$ 26 milhões vieram dosfundos Petros, Funcef e Previ e entrou com uma garantia de outros R$9 milhões em recebíveis.

A promessa era repagar em três parcelasanuais, com um lucro de 12,5% ao ano, mais correção de inflação peloIGPM. Mas o negócio azedou no fim de 2007, quando a Bancoop começou acobrar custos adicionais dos cooperados, e ter o nome envolvido emescândalos políticos do PT, como mensalão e aloprados.

Suspeitasde que os milhões do FDIC não foram para obras As associações decooperados suspeitam que os milhões do FDIC sumiram, já que as obrasteriam praticamente parado.

A suspeita é que o dinheiro entroue saiu sem ser aplicado nas obras disse Dinalva Lombardi, uma dascooperadas no empreendimento Anália Franco.

De acordo com um dosadvogados dos cooperados, Valter Picazio, o FDIC afundou ao mesmo tempoem que começaram a chegar as cobranças adicionais. Foi em 2007,conforme relata a Standard & Poors, agência de risco responsávelpor monitorar o FDIC, que a Bancoop começou a injetar mais recursospróprios para honrar os compromissos.

Regras do fundo foramflexibilizadas Prazos foram estendidos até 2011, e as regras do fundoforam flexibilizadas. Em 2008, o fundo ganhou nota CCC, ou junk, apior categoria de risco no jargão econômico. Em 2009, uma maquiagemcontábil foi usada para esconder o tombo das cotas, e a Standard &Poors quase foi afastada.

Até fechar negócio, os fundos depensão estavam sem expectativas reais de conseguir receber seusdireitos. Essa deterioração aparece nos balancetes, relatórios de riscoe atas de assembleias, analisados pelo GLOBO.

O promotor José Carlos Blat, do Ministério Público Estadual de São Paulo, conseguiu na Justiça acesso a movimentação bancária.

Natentativa de esconder a inviabilidade do FDIC em 2009, a Bancoop chegoua maquiar o valor das cotas e a pagar amortizações aos investidorescom recursos próprios, de origem desconhecida.

Mesmo aoquestionar o rótulo de prejuízo na cifra negativa de seu própriobalanço, a cooperativa reconhece que a liquidação do fundo podesignificar perda de mais de R$ 34 milhões.

Desde 2007, asamortizações começaram a ser feitas com recursos próprios explicouJean Pierre Cote Gil, analista da Standard & Poors que monitorava oFDIC até o início deste mês.

Depois que a agência rebaixou o fundo para CCC, quase teve seu contrato rescindido.

Emseus relatórios, a agência registrou atrasos excessivos no envio dedados e discordou publicamente da contabilidade do cliente, que estavainflando o valor das cotas dos investidores