Título: Apesar da crise, salário bateu inflação em 2009
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 19/03/2010, Economia, p. 33

Segundo Dieese, 92% dos dissídios tiveram reajustes pelo menos igual ao INPC, contra 88,5% no ano anterior

SÃO PAULO. A crise financeira global, que derrubou o Produto InternoBruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) do Brasil em 0,2%,não afetou o resultado das negociações salariais em 2009. Segundobalanço divulgado ontem pelo Departamento Intersindical de Estatísticae Estudos Socioeconômicos (Dieese), 92,6% dos 692 acordos catalogadosno ano passado tiveram reajustes iguais ou superiores à inflação medidapelo INPC, do IBGE. Em 2008, esse percentual havia sido de 88,5%, numuniverso de 782 negociações acompanhadas pela entidade.

Apenas 7% das negociações tiveram reajuste abaixo do INPC no ano passado.

Diante da expectativa que se tinha no início de 2009, o resultado foimuito positivo para os trabalhadores avaliou José Silvestre deOliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.

Foi o sexto ano seguido em que 80% ou mais das categorias de trabalhadores conseguiram ao menos repor as perdas com a inflação.

Inflaçãosob controle ajudou nas negociações Para Oliveira, o bom desempenho dostrabalhadores nas negociações do ano passado apontam para um cenáriomais positivo ainda em 2010. Segundo ele, se confirmada as previsões deexpansão do PIB em até 6% e inflação pouco acima dos 5%, a expectativaé de que 100% das categorias de trabalhadores consigam reajustes iguaisou superiores à inflação dos últimos 12 meses. Até agora, o melhorresultado ocorreu em 2007 (96% de 715 acordos com reajuste igual ousuperior à inflação).

Como houve muitas negociações, sobretudona indústria, setor que mais sofreu com a crise, que não conseguiramzerar a inflação em 2009, a tendência é que os sindicatos pressionempara zerar as perdas este ano estimou.

Segundo o Dieese, ascategorias com data-base no segundo semestre de 2009 acabaram sebeneficiando com o arrefecimento da crise nos últimos seis meses do anoe conseguiram negociar um reajuste melhor.

Nesse período, 84% das categorias analisadas pelo Dieese tiveram ganho real de salário.

Oproblema é que a maioria das datas-base (67,6%) está concentrada noprimeiro semestre do ano, com destaque para maio (28,5%) e março(13,4%).

No ano passado, nos últimos meses do ano já havia umquadro mais definido dos efeitos da crise econômica no país afirmaOliveira Ele diz que a capacidade de negociação de alguns sindicatos nomomento da crise, as medidas do governo para amenizar os efeitos daturbulência internacional e a inflação sob controle também ajudaram nobom desempenho dos sindicatos.

Para o presidente da ForçaSindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, o bom resultado dosacordos é fruto da ação do movimento sindical, que conseguiu umapolítica de valorização do salário mínimo e pressionou o governo areduzir os impostos de alguns produtos