Título: Lula fala em continuidade e ataca imprensa
Autor: Gois, Chico de; Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 25/03/2010, O País, p. 3

Interrompido por gritos de "Dilma", presidente afirma: "Não posso dizer quem vai ser"

BRASÍLIA. Otimista com o atual cenário político-eleitoral, opresidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou ontem confiança quefará seu sucessor ao declarar, em discurso durante solenidade no salãodos Territórios Rurais, do programa Territórios da Cidadania, queacredita que os programas de seu governo terão continuidade. Ao falardo lançamento do chamado PAC II, na próxima segunda-feira, mesmo semcitar o nome da ministra e pré-candidata do PT à Presidência, DilmaRousseff, o presidente disse que tem consciência do que irá acontecer,dando a entender que seria a vitória de sua candidata. A ministra nãoestava presente na cerimônia.

De acordo com Lula, a única forma de vencer as críticas é trabalhare demonstrar "todos os dias que tem competência para governar". Aofalar do programa Territórios da Cidadania, Lula fez um prognóstico:

- Um programa como este é irreversível, é irreversível. Tenhoconsciência de que vamos ter continuidade, tenho consciência. Acho quepodemos fazer muita coisa no próximo período porque nós apreendemos.

Interrompido pelos gritos de "Dilma, Dilma, Dilma", Lula declarou:

- Eu não posso dizer quem vai ser... vamos aguardar. Agora, eu nãoposso dizer, apesar de na minha cabeça eu ter consciência do que vaiacontecer neste país, este ano.

Mais uma vez o presidente voltou a criticar a imprensa, ao dizerque, muitas vezes, os "tabloides" agem de má-fé e não informam direitoa população sobre as ações de seu governo. Disse que há genteincomodada pelo que ele considera o sucesso do seu governo. Para ele,esses críticos gostariam que houvesse alguma desgraça no país para quepudessem afirmar que ele, por não ser "letrado", não tem capacidadepara administrar o país.

Presidente insinua que jornais não seriam confiáveis

Lula disse que entre as mudanças que estariam ocorrendo no paísestão as conferências nacionais - 67 foram realizadas desde que assumiuo mandato, em 2003. E afirmou que, no caso da Conferência Nacional deComunicação, os grandes grupos do setor não quiseram participar.

- Incomoda muita gente, sei, mas a mim não importa que fiquemincomodados, porque eu ficaria incomodado se o contrário acontecesse.

E, ao sugerir que a imprensa tem predileção por publicar notícias de desgraça, completou:

- É triste quando a pessoa tem dois olhos bons e não quer enxergar,quando a pessoa tem o direito de escrever as coisas certas e escreve ascoisas erradas. É triste, é melancólico para um país democrático como onosso, um governo republicano como o nosso.

Ele insinuou que os jornais não são confiáveis.

- Fico imaginando daqui a 30 anos, quando alguém quiser fazer umapesquisa sobre a história do Brasil e sobre o governo Lula e tiver queficar lendo determinados tabloides. Ou seja, esse estudante vai estudaruma grande mentira neste país. Quando, na verdade, poderia estarestudando a verdade do que aconteceu neste país. E as coisas são assim,quando o cidadão quer ser de má-fé, não tem jeito.

No entendimento do presidente, determinados jornais - ele não citou quais - agem dessa forma:

- É assim que determinados setores da imprensa se comportam parafazer a cobertura. Eles sabem o que está acontecendo no país. Se nãoquisessem saber pelos seus olhos, saberiam pelas pesquisas de opiniãopública. Ainda assim, não querem saber.