Título: O que causou a tragédia?
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2009, Brasil, p. 11

Consultados pelo Correio, 10 renomados especialistas em aviação dão suas repostas a essa pergunta

O que aconteceu a bordo do voo AF-447 da Air France é um segredo que talvez nem mesmo os destroços já recolhidos pelas Forças Armadas no Oceano Atlântico poderão revelar. Tudo o que se sabe é que, na noite de 31 de maio, o Airbus A330-200 começou a emitir uma série de mensagens automáticas em um curto período de tempo. Não houve chance de a tripulação chamar por socorro ou anunciar algum tipo de pane que pudesse ser o prenúncio da catástrofe. As teorias para o desastre logo começaram a ganhar a mídia: turbulência intensa, falha elétrica, raio ou problemas nos tubos de Pitot ¿ os sensores que medem a velocidade do ar. A análise dos destroços e dos corpos, até agora, só permitiu aos especialistas descartar a hipótese de explosão ¿ nem as vítimas nem as partes da aeronave recolhidas apresentam sinais de fogo. O Correio consultou 10 renomados especialistas em aviação e em acidentes aéreos. Para muitos deles, o destino do A330-200 foi selado por uma conjunção de fatores climáticos, que se somou a falhas estruturais.

AS HIPÓTESES

FRIO E PANE DO SISTEMA Kieran Daly, editor executivo da revista Flight, com sede em Londres

Granizo e gelo. Para o britânico Kieran Daly, editor do grupo Inteligência em Transporte Aéreo, a tempestade que o Airbus A330-200 da Air France enfrentou na noite de 31 de maio impediu os sensores (tubos de Pitot) de fornecerem dados precisos sobre a velocidade do ar para o sistema de controle de voo. ¿Ou as sondas ficaram cobertas de gelo, e isso já ocorreu antes com o A330, ou a camada de proteção do `nariz¿ da aeronave se perdeu no voo¿, afirma o especialista. Segundo ele, as nuvens cúmulos-nímbus escondem pedras de granizo capazes de danificar a fuselagem de um avião a jato. ¿Isso pode ter ocorrido, o que fez com que o radar meteorológico fosse inutilizado¿, explicou. ¿Além disso, as indicações de velocidade do vento transmitidas para o controle de bordo provavelmente estavam incoerentes.¿ Daly acredita que, durante uma forte tempestade, a ausência de dados do voo tenha levado a uma rápida perda de controle do A330-200.

RAIO E FALHA ELETRÔNICA Prefere não se identificar. Piloto norte-americano de 51 anos, comandante de aviões Boeing

Em suas 18 mil horas de voo, o piloto já enfrentou incêndio na cabine e na fiação. Desde os primeiros dias, ele duvidou que uma bomba seria a causa da tragédia ¿ sua teoria se sustenta no fato de que, depois de uma explosão, o avião teria se partido imediatamente e não haveria tempo para a emissão sucessiva de mensagens eletrônicas. Entre as 23h10 e as 23h14, a Air France recebeu do A330 avisos de que o piloto automático tinha se desconectado e que o fly-by-wire (sistema de controle de voo eletrônico) passara para o regime de alternative law. ¿É muito provável que um raio tenha sido um fator desencadeador de problemas¿, aposta o comandante. ¿O A330 é um computador gigante. A descarga elétrica pode ter destruído os componentes eletrônicos. Acho que estamos a ponto de ter uma surpresa sobre a ligação entre o fly-by-wire e um raio.¿