Título: Ônibus fretados levam dezenas de pessoas a enterro
Autor: Costa, Ana Claudia
Fonte: O Globo, 25/03/2010, Rio, p. 12
Comércio e escolas em áreas de influência do tráfico de drogas em Macaé fecham as portas
O traficante Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, foi sepultado no final da tarde de ontem em Macaé, no Norte Fluminense, onde nasceu e começou a sua carreira de crimes. O corpo foi velado numa capela do cemitério Memorial Mirante da Igualdade, vizinho a um forte do Exército e a uma delegacia de Policia Civil. A família de Roupinol, de classe média, bastante conhecida na cidade ¿ seu pai chegou a ser secretário municipal ¿, impediu o acesso da imprensa ao local. No cemitério, foi armado um forte esquema de segurança. Dois ônibus fretados levaram cerca de cem pessoas de bairros periféricos da cidade para o enterro. A cerimônia foi acompanhada por cerca de 150 pessoas.
O comércio em áreas de influência do tráfico em Macaé, como os bairros de Malvinas, Arueira, Nova Holanda e Barra, permaneceu fechado em sua maior parte, em luto imposto por bandidos. Nesses bairros, a maioria das escolas não funcionou, por motivo de segurança. As poucas que abriram tinham poucos alunos, porque a maioria dos pais não quis levar os filhos. A prefeitura confirmou que suspendeu as aulas em alguns colégios de áreas de risco. Hoje, no entanto, eles funcionarão normalmente.
O comandante do 34º BPM (Macaé), coronel Alnyr Ribeiro, disse que a situação está sob controle na cidade, mas admitiu que recebeu reforços dos batalhões de Cabo Frio, Campos e Itaperuna, além de uma tropa de choque da PM da capital. São mais de 300 policiais militares espalhados por áreas estratégicas do município. A PM está monitorando itinerários de ônibus, para evitar que sejam atacados pelo tráfico. A polícia também ocupou garagens, diante de rumores de que bandidos pretendiam incendiar os coletivos nos pátios. As empresas suspenderam algumas linhas cujos percursos são considerados de risco.
Homens do serviço de inteligência da PM impediram uma manifestação que seria feita ontem, apreendendo uma grande faixa em homenagem ao traficante, que vivia no Rio, mas, à distância, continuava controlando a venda de drogas em Macaé. Desde a morte de Roupinol, sete pessoas que incentivavam protestos foram presas, sendo liberadas após prestarem depoimento.
O secretário de Segurança do estado, José Mariano Beltrame, teria determinado a realização de um levantamento sobre Macaé, onde, segundo ele teria dito a empresários da região, seria implantada a primeira Unidade de Policia Pacificadora (UPP) do interior do Rio. O município é a cidade brasileira que mais registra assassinatos entre os jovens de 16 a 30 anos.
Roupinol nasceu e viveu em Macaé até a idade adulta. O apelido teve como origem o nome de um calmante e foi dado por causa da sua frieza.