Título: Procurador quer arquivar processo de Meirelles
Autor: Carvalho, Jailton de; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 25/03/2010, Economia, p. 24

Pedido é para pôr fim à investigação sobre possível evasão de divisas. Decisão agora cabe ao Supremo Tribunal

Jailton de Carvalho, Chico de Gois e Vivian Oswald

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, recomendou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) o arquivamento do pedido de abertura de inquérito contra o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, por suposta evasão de divisas. Segundo o procurador, as denúncias formuladas contra Meirelles no início deste mês já foram investigadas e arquivadas pelo STF há mais de dois anos.

A Procuradoria-Geral da República atribuiu o pedido de inquérito contra Meirelles a falhas de representantes do Ministério Público, da Justiça Federal e da Polícia Federal encarregados de analisar parte das informações do escândalo do Banestado, ou das chamadas contas CC5.

O fato objeto desse inquérito é um dos fatos contidos naquele inquérito (das contas CC5) já arquivado. O Código de Processo Penal impõe o mesmo destino, no caso o arquivamento, salvo se houvesse fato novo. E não havia fato novo. Era uma remessa feita com base em elementos de anos atrás disse o procuradorgeral.

Os documentos, segundo Gurgel, tinham chegado à Justiça Federal há dois anos e ninguém percebeu: A polícia não percebeu, o próprio Ministério Público não percebeu e a própria Justiça não percebeu que havia referência ao Meirelles. Numa segunda vista que o procurador teve, ele disse: olha, tem alguém aqui com prerrogativa de foro. E aí foi feito o desmembramento e remetido (ao STF).

Ao comentar o arquivamento, o presidente Lula afirmou: De vez em quando, no Brasil acontece coisa assim, do arco da velha.

Se o pedido de abertura de inquérito fosse levado adiante, as investigações poderiam inviabilizar os planos políticos do presidente do BC. Meirelles é um dos integrantes do alto escalão federal que pode deixar o governo até o próximo dia 31 para disputar a campanha eleitoral deste ano.

Ele está cotado para compor a chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à presidência.

Meirelles, aliás, já deixou claro a um amigo que só deixará o BC se for chamado para ser vice na chapa da ministra Dilma. Ele não estaria mais interessado na vaga no Senado por Goiás.

Meirelles afirmou ontem que sua decisão ainda não foi tomada e que vai conversar com Lula na semana que vem.

Ele desistiu das férias que tiraria para poder refletir sobre seu futuro político: Vou ter que pensar no assunto no fim de semana e nas horas vagas. Tem gente que diz que tenho até 2 abril para pensar. Dependendo das circunstâncias, isso pode ser uma eternidade afirmou ele, negando que o anúncio ontem de medidas cambiais fosse um ato para limpar a gaveta antes de sair.

Lula diz que ainda não sabe se Meirelles sai ou fica Lula, um dos patrocinadores da indicação de Meirelles a vice de Dilma, desconversou: Não existe desejo do Lula de fazer o vice da Dilma. O vice da Dilma é da Dilma, o vice da Dilma é dela e dos partidos que ela compuser na aliança política. O meu vice, no tempo certo, eu escolhi, que foi o Zé Alencar. Agora, pelo amor de Deus, eu já escolhi a candidata a presidente, agora escolher o vice também? Será demais, não é? Então, eu penso que ela é que tem que ter autonomia para escolher.

O presidente brincou ainda com a indefinição sobre a saída de Meirelles do cargo: Eu, talvez converse com o Meirelles na semana que vem. Não sei se ele quer ser candidato, não sei se ele não quer ser candidato e depois emendou: Quando é o presidente da República que quer tirar o ministro tem um trauma, durante um mês vocês (da imprensa) falam: fulano está fritado, fulano está sendo cozinhado, fulano está não sei das quantas (...). Agora, quando é o ministro que quer sair, ele não está preocupado com você, ele chega lá e te comunica: Tô fora, e vai embora.