Título: Reajuste do minério de ferro pode elevar a inflação em até 2% este ano
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 25/03/2010, Economia, p. 25
Matéria-prima tem peso de 1,8% no índice de preços do atacado
O reajuste do minério de ferro pela Vale, como vem sendo especulado no mercado, em torno de 114% este ano a empresa não confirma pode ter um impacto nos demais preços da economia e puxar, portanto, a inflação. Especialmente a medida pelo Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), que reajusta aluguéis, mensalidades escolares e preços administrados, como luz e gás. A telefonia tem índice próprio.
O motivo para o impacto é o fato de que o minério de ferro tem peso de 1,7692% no Índice de Preços do Atacado (IPA), que representa 60% do IGPs (IGP-M, IGP-DI e IGP-10), calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em datas diferentes. Se o reajuste de 114% for confirmado, resultará numa inflação a mais de 1,22% pelo indicador, quando vier o aumento, se for totalmente repassado.
Além disso, o reajuste do minério terá impacto direto no preço dos produtos de aço (que têm peso de 4,98% no IPA), e indireto no preço de bens duráveis, como carros (com peso de 9,51% no IPA) e eletrodomésticos (com peso de 0,63% no atacado), como lembra Marco Franklin, sócio da Platina Investimentos.
E as tarifas e contas reajustadas pelo IGP-M sofrerão impacto no próximo ano ainda.
É a chamada inércia: a inflação de um período que é carregada para um período posterior na forma de reajuste pelos índices de inflação.
IPCA também pode subir com preços administrados Vai ter impacto na inflação (a alta do minério de ferro), especialmente no atacado. Se for de 114%, como está se falando, sobe quase 2% só nisso. Tem impacto nos IGPs e nos preços administrados para o ano que vem, com influência em toda a cadeia de produtos fabricados com aço diz Marco Franklin, para quem a inflação medida pelo IPCA também deverá sofrer, sob influência dos preços administrados.
Franklin, da Platina, avalia que o IGP está passando por uma revisão da metodologia, que poderá elevar ainda mais o peso do minério de ferro.
O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, concorda que o reajuste tenha potencial inflacionário.
Mas pondera que, como a Vale quer fazer reajustes em períodos mais curtos (hoje são anuais), é possível que esses aumentos já estejam acontecendo aos poucos e, portanto, já captados parcialmente pelos IGPs.